Perder de vista

Hoje o bar está fechado. Passei o dia com dores profundas no ventre. Era como se planetas se degladiassem no interior de meu universo. Meu corpo a revelia dos deuses. Eu quebrando pedreiras a picaretas. Garras sem perdão. Fazendo fogo. Derretido chão. Lua sangrando no cosmo. Cromossomas eu. Morri varias vezes hoje. Quando me levantei exausta e atordoada minha gatinha com seus olhos de sol me iluminava anunciando que mais uma vez acordei. Sol de inverno feito faça furando o olho. Ela dizia em silêncio. " Tu se fode toda hen! Quem tem força como tu assim vive embates violentos. Sangrentos desatos".

Levantei. Bebi água como quem anda deserto. Instrução de chuva. Andar manso, arrastado, velho , dolorido. A cabeça confusa ainda como se tivesse levado pauladas até quase morrer. Um quase a vida. Quasar pulsante. O corpo macerado. Meio mole anestesiado. E esse fôlego bêbado. Olhos turvos de fundo de mar. Na cozinha olhando em volta como se tivesse reconhecendo um antigo lugar...matadouro não sei, terras vulcânicas, minas d'água, gruta ...o sangue escorreu todo por entre as pernas numa explosão silenciosa derramando magmas. Me virava do avesso. Me desfazendo toda como o barro dissorado nas mãos do tempo..ah , o tempo me sulca fendas e fundura onde resvalo a perder de vista.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 27/07/2017
Reeditado em 27/07/2017
Código do texto: T6066464
Classificação de conteúdo: seguro