Dedadas cutucantes


      O ser no querer, passos desejados, um pouco do insólito. Este tudo haver, um pertencer, do dito e o não repetido. Amada por ser inocente, mas de tanto amargar presenciou a demora do amôr nos outros. Nenhuma culpa ou nenhuma reza inútil, nada a crer sem supor inexistir. Por ora as boas divindades nos deixaram um vácuo sem nome para tentarmos crer neste sermos humanos, testando os avisos que revelam escuridão, nos fazer acreditar na audácia de viver com grandezas a descobrir.

      Terminar o que inicia silêncio, num tempo de amar uns com outros, de perto, calados sem declamar compaixão que assusta-nos. Ao passo que evitamos as chamas violentas como pudéssemos apagar uns gélidos desprezos dos tiranos. Vivenciar esta poesia machucada, nesta sumamente infeliz guerra do dia-a-dia que só engana felicidades, numa suposta hora de viver as necessidades com esperança fluida. O que nos mata desaponta a especulada morte dos imortais, porém a poesia do mundo estará na esquina arruinada, mesmo que abafada pelo tempo requentado. 
     
      Passo com os versos na mão, no querer obter jóias como doces raros sem aromas. E passo em duas voltas no túmulo de meus erros do passado, infante ou insolente, deixados como relicários sem rezar. E de muita ajuda ergo os passos posteriores na benesse de esquecer a falha do passado. Generosamente convenço-me a lembrar também do meu crescimento íntimo com variados graus de feridas realistas. Não canso jamais em dizer que o querer é ter, reter o que reflito nas noites assim solitárias de súplicas. E já não tenho religião pra compreender que por ora ignoro as dôres da culpa e nem rezo como devia ter sabido, que sou aprendiz eterno da vida, qual conjura de promessa. E sou ateu afinal na espreita das desculpas. E logo sou meu próprio salvador e o meu próprio destruidor. Aprendido isto não pedirei a um deus receita de perdão do meu destino, nem oração pra vingar a fúria ou rosários falsos para se desejar o mal a terceiros.
     
      Cada hora se tem como testemunho. Cada enorme vitória que desconheço me acusa poesia. Cada batalha íntima cede lugar ao sorriso, ao estranho enfrentamento impedido por alegria, ao ser amada relutante. E cada perda é somente um ganho a menos da vida. Um algo perdido no chão sem sementes, na terra a ser pisada com mais verdades sem perdas!

     Agora sou de face livre de rugas, de corpo juramentado no amôr intenso, sendo o ser humano aquém do exagero. Senhora da levante descoberta em essência, querendo e requerendo vir-a-ser, solitária se desejar que assim seja. E no falar tanto eu esvazio o lucro da revelação até aqui. Um sofrimento se expurgou, espalhou a notícia enfim. Contudo, relato que no fim estou numa poesia, poema, a esclarecida dama...
 
Jurubiara Zeloso Amado
Enviado por Jurubiara Zeloso Amado em 27/08/2017
Reeditado em 27/08/2017
Código do texto: T6096970
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