Efusão lírica

Não me lembro do rock que ouvi na adolescência

Meu saudosismo morreu com a última tragada de Cássia Eller

Não, não morrerei de overdose

Não, não viajarei com os psicodélicos e seus cogumelos

Só sei que quando chego em casa, após um dia nas bibliotecas

Um dia nas faculdade, bares, praças,

Um dia lavando as louças e roupas de um filósofo preguiçoso

Sou como uma puta que tudo deu à sociedade e agora

Não vale mais nada

(2 reais!)

E o amor do velho pervertido e seu típico cheiro de tártaro

E o pequeno amor daquele que traiu sua velha esposa

O amor daquele que não sente falta de sua falecida senhora

Que banal! Que ordinário perto do kama sutra...

(Precisamos ser criativos nessas horas...)

3:44; 3;45

Já eram os junkies, os hippies

Não me importo com o cu de Caetano,

Não me importo com os idos anos 70, 80, 90, 00

A efusão lírica é a minha

É meu corpo, minha fétida boceta peluda

São meus versos, minhas histórias num beco perdido

Quem se lembra do tio patinhas?

Quem se lembra do galvão bueno, da veja, da globo

Estão tão velhos e pervertidos

Mas não, não vou dar-lhes o prazer de me comer

Prefiro antes os solitários

Prefiro antes os renegados

Prefiro antes os depressivos

Prefiro antes os aspergers

E a heroína arranha os lares

Imagino quantos dementes hão de se ter

Num arranha-céu nova iorquino

Em busca da pílula perdida

E a vida, onde está a vida?

Tolos sorrisos opacos

Doces dentes amarelados

Inúteis estudantes de filosofia!

Deixo para Kant todo o racionalismo

Deixo para Nietzsche todo o pessimismo do mundo

E a partir daí, entra a poesia

Sou aquela que dança

Sou aquele que nada

Sou aquela que voa

Sou aquele que canta

Sou aquela que não se importa com os velhos olhares

Vejo o belo como belo

Vejo o feio como feio

E o resto, é tudo maneirismo de estilo

Velhas roupas desbotadas, amassadas, sujas e morais

E a pena do urubu é sempre tão preta

E o grito do corvo é tão absoluto

E a morbidez do alucinado é tão vulgar

E a voz do poeta é verdadeira

Meus ídolos nunca morreram

Meus ídolos nunca existiram

Meus ídolos não estão nos livros de história

Tanto me faz o passado

Tanto me fará o futuro

Tanto me toca a geração de hoje

(Uma bruxa é queimada no centro da cidade...)

Estarei à margem de tudo que é fosforescente

E que num piscar de olhos é vulgar

Essas drogas não me tocam, nem sua pica, nem seu beijo, o show dos velhos titãs

A boca seca e enrugada,

A adolescente que em breve se tornará saudosista

Essa eu não conheço, nunca conheci, nem olhei

Preciso de mais perspectivas

Que morram as minhas expectativas

Preciso de mais perspectivas

Que se foda a professora da escola

Preciso de mais perspectivas

E o umbigo da Britney está tão murcho e caído...