a aquarela dos dias cinzentos

é engraçada a sensação causada por dias em que a radiação solar se torna impalpável e a única parte tangível torna-se a penumbra distante. nesses dias, nós nos caracterizamos como distantes e penumbrosos, como se a meteorologia fosse capaz de interferir no nosso sorrir ou chorar. torna-se ainda mais engraçado quando o dia, literal e figuradamente, encontra-se pesado, escuro. a associação é ainda mais cabível e as lágrimas ainda mais presentes ao olharmos para as nuvens e, logo em seguida, para nós mesmos. todavia, cansei dessa eloquente analogia. é escassa de sentido. falta-lhe sentido porque senti uma felicidade capaz de extinguir-me num desses dias que preferimos evitar. senti, dentro de mim, o incessante pulsar de corações juvenis que esperam pelos pais e avós em dias comemorativos, enquanto sentia pesadas gotas de água, resultado desses dias detestáveis, se comunicarem com o meu ser. enquanto em dias em que vislumbramos a nitidez do girassol, senti-me miserável como homens que lutam por aquilo que não têm orgulho; mulheres que amam sem sentir e sentem sem amar; crianças que choram sem saber por que chorar. senti-me presa dentro de mim enquanto meu rosto fervia e a brisa confundia meu semblante. não quero mais os dias ditos felizes. na verdade, não quero mais que os entitulem dessa maneira. equívoco puro. dias cinzas carregam em seu genótipo todas as cores do arco-íris.