ARCO ÍRIS
Vejo a chuva abraçar a tarde com volúpia. Ouço a voz do trovão repetir o nome da moça sob o temporal. As árvores se curvam para receber o beijo molhado da chuva. Acuada, sento à porta da cozinha. Molham me os pés e as asas. O céu me sorri entre nuvens que colidem. Penso nela recostada às margens da noite, em agonia, lutando para vencer a escuridão que ainda não veio. As mãos crispadas e os seios nus. Ergo o rosto para sorver o milagre das gotas frias que adoçam o fio de sal na minha face. Nenhum sol agora faria mais sentido do que este céu sem cor de onde flui o visgo do meu medo. Ela abriu os olhos e enxergou o azul por sobre a copa da mangueira e sorriu porque achou que era sonho aquele arco encravado no peito vazio.