simplicidade

por curtos momentos tirou o olhar que antes encontrava-se vidrado num programa curioso sobre massinhas e tubarões. encaminhou-o para mim, e eu, desatenta quando não devo ser, nem me dei por esse feito. de repente ouço quatro palavras que agem como um forno, em sua potência máxima, sobre a massa do bolo feito pela vovó na semana retrasada. "você é muito bonita". não pude acreditar que aquela pequena criaturinha era capaz de promover tamanha felicidade e emoção dentro de mim, que sou outra pequenina criatura. "quem?". ele já estava com a cabeça deitada no braço da cadeira giratória, enquanto me olhava de uma forma que nem me dou ao trabalho de tentar explicar por meio de palavras. os dedinhos delicados que antes apontavam para o computador, naquele momento apontavam para mim. "você". continuei a não acreditar. não era possível. não que eu tenha dúvidas sobre a minha beleza; isso tornou-se coadjuvante. eu não pudia acreditar que a vida poderia ser tão colorida por algo tão mínimo. algo tão ínfimo e, ao mesmo tempo, tão grandioso em seu significado. em troca, lancei três palavras, que muitas vezes são ditas de forma tão batida. "eu te amo". ergui minha mão em sua direção, e os bracinhos, bem posicionados no braço da cadeira, agora corriam ao meu encontro. senti o calor presente em sua mão tão minúscula, nada comparado ao fervor que eu sentia dentro de mim. "te amo muito". mais cores. a cadeira, antes preta, agora era rosa. a parede já tinha se tornado amarela. a mesa de canto, que antes abrigava um marrom esquecido, tornou-se azul. e dentro de mim havia uma aquarela com cores que nem existem, cores criadas pelas palavras pronunciadas pelo ser mais cheio de cor que eu já conheci.

Amélie Chamborro
Enviado por Amélie Chamborro em 22/10/2017
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