Do meu quintal...
Do meu quintal...
Cada coisa em seu lugar e um cheiro de café fresco. Enquanto a amendoeira sombreava o chão de terra cor de chocolate ao leite com suas folhas generosas balançando ao vento, também balançava a menina de cachos dourados no pneu velho, nave interestelar que seu pai por excesso de zelo, amarrara com cordas aos galhos da árvore firme e frondosa para que a menina não escapasse a voar...
A vida era o grande pedaço de céu do seu quintal. Ora o sol, ora a lua e as estrelas para contemplar. E as roseiras desgovernadas florindo lindas princesas amarelas e vermelhas, súditas em seu reino azul particular.
Medos? De perder o programa vespertino da TV ou que se rasgasse seu já surrado exemplar de Guliver.
Sonhos? Para que a ilusão de um futuro se o presente lhe parecia tão perfeito?
Ela sorria e ao mundo se permitia.
Em seu universo micro e ela estava protegida da maldade pelo encantamento que se conserva quando tudo é novidade.
Gostava de gente grande. Impressionavam- lhe as vozes de trovoada e seus passos firmes e barulhentos. Ela achava interessante observá-los de baixo para cima como quem admira os grandes arranha-céus nos centros urbanos em constante frenesi. Nem sempre compreendia do que eles diziam, mas se sentia importante demais quando eles a ouviam, e ela já sabia, mesmo tão pequenina, fazer calar os gigantes.
Tinha um cão chamado Tainha, mas ele não era um animal de estimação... Era o guardião do portal do reino secreto dos tesouros escondidos que ficava entre a roseira e a parreira de maracujás. Ahhhh e aquelas flores?
Aquelas grandes flores brancas de odor marcante que atraiam as abelhas e os colibris e que eram as testemunhas mais singelas do quanto ela era feliz. Do quanto toda aquela miudeza rica de detalhes era grandiosa e feliz!
Renata Vasconcelos