O amor

O amor não tem explicação.

Não dorme de touca.

Não tem som, não tem cor.

É inodoro.

Tem paciência de Jó e a esperança que detém

é semelhante à da criança.

Tem mais Lua do que chão em seu currículo.

Assaz ridículo, transigente, faz a gente tropeçar.

Nos embevece, entontece de tanta alegria

ainda que seja o dia ilusão do querer.

Faz a noite transparecer no seio da poesia.

É sua vocação ouvir estrelas.

Tem de predileção as cores da íris do ser amado.

Ah! Como nos faz sonhar acordados.

Exigente, rende-nos exaustos de espera.

E, por não ter explicação resiste o amor

com força que vem não se sabe de onde.

Por razões alheias à compreensão

faz-nos antes suportar a dor que maltrata

do que negar-lhe outra chance.

Assim, a toda lança, a toda vírgula

dá o poder de acender de novo a esperança

porque o amor não precisa dormir.