Como?

Como alçar voo se, aos meus pés, toneladas de “não seis” se penduravam nos céus de sua apatia?

Como estar leve, se no meu peito se alojaram as pedras que me atiraram os “sem pecado”?

Como flutuar nas superfícies deste mar de lágrimas se a procela de soluços as profundezas desse mar revolvia?

Como cair em queda livre neste abismo de incompreensões, que se aprofunda e internaliza experiências de um corpo desalmado?

Como?

E caindo, caindo...

Como bater no fundo lodoso de terra preta, podre, misturada e bem batida sobre sangue e ossos descarnados pelo algoz?

Como deixar que o sono me leve para longe desta cama, onde só um corpo, já desabitado, insiste em mover sangue e inspirar cuidado?

Como morrer sem que falta alguma se faça sentir em vidas mortas, pelas quais morria, em meio a um estupor néscio, diante do assombroso grito de um silêncio atroz?

Como?