OS AUTOS E O BUROCRATA
autos do processo
autos da devassa (traição exílio morte)
autos que circulam velozes
para a autodestruição
desumanos, pelos caminhos
da comprida autoestrada
a mente angustiada do burocrata
perdeu-se em devaneios
acostumado à rotina administrativa,
autômato, segue com as funções oficiais
e pensamentos oficiosos, lembram-no,
contudo, que o processo está pendente
aguarda sine die o julgamento
e esperará ainda muito tempo
traças disputarão, afoitas,
suas páginas já amarelecidas,
fadigadas com constantes manuseios
de inquietos causídicos
pendente está o coração do burocrata
que amou novamente (pobre incauto)
e, desiludido, ficou a olhar
as páginas amassadas dos autos
seu pensamento novamente se perde
na solidão do fim de expediente
nos labirínticos escaninhos
da repartição insalubre
entre carimbos clipes colchetes
grampeadores computadores canetas
estantes enferrujadas, papéis rabiscados
seu coração se escondeu
chora angustiado em um canto qualquer
pendente de carinho enquanto,
esperançoso, aguarda (não se emenda mesmo)
o julgamento da ação.