OS AUTOS E O BUROCRATA

autos do processo

autos da devassa (traição exílio morte)

autos que circulam velozes

para a autodestruição

desumanos, pelos caminhos

da comprida autoestrada

a mente angustiada do burocrata

perdeu-se em devaneios

acostumado à rotina administrativa,

autômato, segue com as funções oficiais

e pensamentos oficiosos, lembram-no,

contudo, que o processo está pendente

aguarda sine die o julgamento

e esperará ainda muito tempo

traças disputarão, afoitas,

suas páginas já amarelecidas,

fadigadas com constantes manuseios

de inquietos causídicos

pendente está o coração do burocrata

que amou novamente (pobre incauto)

e, desiludido, ficou a olhar

as páginas amassadas dos autos

seu pensamento novamente se perde

na solidão do fim de expediente

nos labirínticos escaninhos

da repartição insalubre

entre carimbos clipes colchetes

grampeadores computadores canetas

estantes enferrujadas, papéis rabiscados

seu coração se escondeu

chora angustiado em um canto qualquer

pendente de carinho enquanto,

esperançoso, aguarda (não se emenda mesmo)

o julgamento da ação.

Raphael Cerqueira Silva
Enviado por Raphael Cerqueira Silva em 12/11/2017
Código do texto: T6170072
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