vai que ela volta pela janela

[vai que ela volta pela janela]

fechei a porta pra a saudade não entrar. é que ela vem me visitar de vez em quando. principalmente em dia de chuva. aí é que ela vem mesmo. acho que ela passa pela porta, vê que tá encostada e acha que eu deixei assim propositalmente. ela é muito inconveniente, às vezes. chega como quem é de casa e invade meu corpo todo... espaçosa que só ela. acho que no fundo ela é carente. a saudade é carente de mim. acho que ela quer relacionamento sério. outro dia eu comprei fechaduras novas porque no último término ela ficou com a cópia da chave. mas a danada veio correndo e arrombou a porta. ela veio na sexta e acabou passando o fim de semana todo comigo. só foi embora na segunda porque tive que ocupar minha cabeça com outras coisas.

as segundas-feiras, de modo geral, são muito irritantes. me dão até um pouco de raiva. e a saudade, pra falar a verdade, não vai muito com a cara dela. na semana que a raiva ficou por aqui, a saudade nem bateu na minha porta. acho que deve ser ciúmes. mas eu também não consigo ficar muito tempo com raiva. percebi que ela era maneira algumas vezes mas aí em outras dava merda. enfim, terminamos. nesse dia comprei um vinho, fui pra a praia à noite, dai me apareceu uma conhecida da saudade... a calma. ela veio quietinha, sem fazer muito barulho, que nem cena de filme, correndo em câmera lenta na praia. eu jurava que a nossa relação ia dar certo.ela me fazia tão bem. a gente ouvia música olhando pro mar e o tomava um banho demorado... o beijo então, nem se fala. o beijo com calma era uma delícia. mas o tempo foi passando e eu confesso que sentia um pouco de preguiça dela. não sei... enfim, um dia a gente brigou feio... eu também tive uns lances com pressa e entrei em crise com a ansiedade e aí o tempo me deixou confusa de novo, mas com ele era só amizade mesmo. da última vez, foi o tempo que me ajudou com uma confusão que tive com o ego e acabei por expulsar todo mundo de uma vez. confesso que fico meio perdida sem eles. de vez em quando batem na porta, mas não costumo responder. a saudade um dia desses voltou a flertar comigo mas eu troquei de novo a fechadura. escondida do orgulho e como quem não quer nada… deixei a janela aberta… vai que ela volta.