O feio

Ele era feio e queria ir para o espaço

Onde não havia espelho em que se olhar.

Queria o vazio de infinitude

E ir onde ninguém mais ousara chegar.

Sonhou muito tempo, esnobou os sorrisos

Temia que tudo vinha lhe acusar

Apontar os defeitos, do rosto, do jeito,

Defeitos que ele mesmo insistia em marcar.

Viveu de angústias, moeu esperanças

De que só noutro mundo poderia ficar.

Não olhava em volta, não pensava primeiro

Montou o seu plano sem enxergar.

Pegou um foguete, tirado de histórias

Vestiu o seu traje sem animação

No fundo não queria ir embora

Mas precisava livrar-se de tanta confusão.

E ele, que era feio e não aguentava,

Subiu numa jornada sem explicação

Por sua janela viu a Terra ir embora

Mas em vez de estrelas só encontrou escuridão.

O maior problema veio logo

E sufocou o restante de determinação

A janela contra o breu virou um espelho

E o feio se olhou, não teve opção.

E orbitou silencioso em seu pequeno foguete

Que em pouco virou sua pequena prisão

Sem ânimo ficou ali diante do espelho,

Lá fora o breu e lá dentro solidão.

Ele refletiu como quem está morto em vida

Ele sofreu por uma velha paixão.

Chorou então arrependido

Por nunca ter se feito uma opção.

Não era feiura o problema que tinha

A feiura estava em seu olhar.

Pois quem abre as janelas da alma

Abre só se for para a luz entrar.

Leandro Sales
Enviado por Leandro Sales em 03/12/2017
Código do texto: T6189368
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