Eu quero um amor antigo

Eu quero um amor antigo, inspirado em um livro velho retirado de uma pilha de outros em uma estante antiga de um porão escuro. Eu quero um amor coberto pelo passado, conservado pelo tempo que se preocupou em construir outras formas de amar. Eu quero um amor ao estilo New York, anos 50. Quero abrir a porta do carro, puxar a cadeira, quero segurar o guarda-chuva e me molhar, quero até mesmo jogar meu blazer na poça de água, fazê-lo de ponte. E por falar em pontes não seria mal ideia existir uma para fugir do presente, passear entre épocas, pegar o melhor de cada uma delas e fazer um amor. O amor que eu quero, um amor antigo, um amor que todo jovem rir, um amor que já não existe mais. Eu quero um amor que sorria para mim, que segure a minha mão, que me ensine a voar. Eu quero um amor que me traga de volta até mesmo o que eu nunca perdi, que faça-me encontrar-me comigo mesmo, tão redundante ao ponto de virar poesia, e poesia a gente não faz, poesia aparece. Rima aparece, padece, e some... ou permanece. Fica. Igual ficaste em mim, e me fez querer um amor, um amor antigo. Gramaticalmente enjoativo, liricamente sonoro e poeticamente...comum. Eu quero um amor, antigo. Uma súplica batida de poetas românticos, um amor que não fuja, que não corra. Um amor que seja o veneno e o remédio em um frasco só. E pra ele não ser assim, tão antigo. Que tenha os filmes, as flores, os chocolates, os cartões, que tenha a gente, que tenha suas roupas pequenas, meus rastros de desastrado, que tenha seu sorriso, meu olhar envergonhado, que seja doce como seus lábios, e suave como seu beijo. Que seja leve como seus cabelos, que o vento o faça-o voar porém nunca o desprenda de mim. Que reflita sua imagem em meus olhos, que nos sufoque como nosso abraço, que nos mata aos poucos para que tenhamos tempo de ser imortais, que traga um silêncio ensurdecedor, que sana o barulho dos caminhões em sua porta, que nos traga sabores que nunca provamos, cheiros que nunca sentimos, que nos faça árvores frutíferas, que não nos dê tantos frutos, mas que estes sejam os melhores de todos e que um dia nos faça contar sobre... um amor antigo. Um amor sem data de validade.