Ainda que seja no fim do dia

Era uma criança que andava sonhando

com os pés no chão.

Literalmente pés sujos de terra

a cabeça voava até a estratosfera

de onde trazia a solução.

Não era mais do que um menino

aquele em quem pesava

estranhas dores.

Feriam tanto mais

quanto mais ousasse ser livre.

As mágoas, os grilhões de uns

não suportam o voo do pássaro.

Põem tristeza em seu canto.

Esses foram crianças

e esqueceram que sorriam.

Ele corria em disparada

sem nenhuma direção

qualquer lugar era melhor

do que a prisão.

Fugia transpondo as placas

os gritos de pare, ruas, avenidas

olhares assustados.

Fugia do tempo e depois

de calças compridas

flutuava faminto, de porre

do avesso, sorrindo.

Brandindo a espada

contra bizarros dragões

ludibriando fantasmas

ainda sonha, o menino

ainda que seja de noite

enquanto dorme.

Sabe que Deus está por ai

em todos os lugares.