Pelos inícios das manhãs
Ah, se não fosse você, sono bom...
O que seriam dos meus inícios de manhãs...
Sempre quando eu consegui vencê-lo,
Despertei fundo, doce,
Os céus nunca me desapontaram,
Mesmo as nuvens mais cinzas,
E quando o sol, tímido, se esconde entre elas...
O cheiro mais puro do dia,
Cheirinho, aquele..
Aquele perfume divino,
Dos deuses!
Aquela preguiça, ao ver a cidade dormindo...
E eu também, dormindo e acordando...
Durante as férias, mais ainda,
Preguiça de cidadezinha,
Com suas ruas de pedra, com o cantar dos passarinhos...
A vida suave, zinha,
Pequenininha, aos passinhos,
Com o seu casco,
Somos tartarugas,
Temos com o quê carregar,
Os nossos fardos, fados, chatos, tristes,
Complicados,
Porque "adoramos" complicar,
Especialmente .. vocês sabem quem...
Deveríamos caminhar devagarinho pelo tempo, que o espaço da vida nos dá,
Mas vivemos explorados,
Muitas vezes jogamos esse jogo, e exploramos os outros,
Mas todos nós, no fim, somos enganados,
Sabemos que podemos superar,
Que não precisamos tanto assim,
Que nenhum sacrifício é necessário, quando é muito árduo,
Quando sacrifica demais e nos faz de pobres coitados,
Nós, que já somos pobres mortais,
Que a cadeia alimentar, já a podemos superar,
Que este é o princípio e o fim da filosofia,
Temos cascos, e corremos dos chicotes,
Que estalam nas costas, [mesmo] quando obedecemos,
O berço das manhãs, dos dias, de mais um ciclo fechando, arrumando seus ponteiros,
O tempo urge o tempo inteiro,
A vida humana só evolui de verdade se for na lentidão,
Mais percebemos a vida, mais queremos conter, retardar o tempo,
Maior a consciência, mais lentos,
Mais cuidados apregoamos,
Dias como semanas,
Vendo os inícios das manhãs...
Como seria se fluíssemos tal como os seus inícios, muito mais perto da chama que inflama o coração,
Com muito mais zelo, os prazeres da vida, durando mais tempo, mesmo Ele, sempre um ratinho, roendo, e cor roendo, acinzentando, nos forçando à melancolia, que confundimos com a sabedoria,
Já no fim dos nossos dias, perto do entardecer,
Ai daqueles, que já nascem entardecidos,
E estão sempre em busca das manhãs,
Mais perdidos,
E sabendo como estão, sentir
E pra onde deverão, partir
E nas noites, se banham na escuridão,
Fitando estrelas, galáxias, pensamentos,
Estão sempre comendo as maçãs,
Olhando cara a cara com Deus, lhe mostrando seus lamentos,
Reclamando,
Tentando negociar,
Tentando apaziguar sua brutalidade,
Sobram-nos as manhãs,
Quando o sono acorda cedo,
Em mais uma, e única sinfonia...