A jardineira e sua chuva.
Uma erva daninha que se ignorava em meio à empolgação do novo jardim.
Que cresceu enquanto também se apreciava da beleza de cada flor encontrada.
De cada promessa de frutos que dariam uma alegria estável.
Observa-se a esperança de que a chuva que cai não o destrua completamente.
Mas o coração da jardineira indica que a inundação já estabelecida não permitiria um recomeço.
Ou talvez seja ainda o seu ego ferido pela falha no cuidado.
Seria imperícia depois de tantos anos e poucos jardins visitados?
Seria imprudência por iniciar algo em terreno não preparado?
Ou quem sabe uma negligência ao equilíbrio entre cultivadora e ser cultivado?
Tantas dúvidas que não teriam necessariamente respostas.
Mas a angústia gerada empurra os pés da jardineira para a estrada.
E a solidão de sua escolha sussurra impiedosamente que talvez sua falha seja pela inaptidão em admitir o que gosta e o que sente.
A hesitação entre nutrir seu jardim ou se negar a ver seu bem se desenvolver.
O medo do temporal que faz qualquer chuvisco ser motivo de retraimento.
E então ao sentir da primeira gota... ela vai embora na incerteza se conseguirá novo uso para suas sementes e instrumentos de jardinagem.
Ela olha para trás.
E ela olha para o céu.
Mas não consegue enxergar o que acontece diante e dentro de si.
Ela sabe que tem suas qualidades.
E ela sabe que nem tudo é sua culpa.
Mas não entende o porquê da instabilidade de seus cultivos.
Seus pés estão cansados, mas seus músculos não os deixam desistir.
E a jardineira segue no automático, torcendo lá no fundo pelo encontrar de um bom terreno ou de novas sementes.