HIATO

Descobri-me com sérios problemas, os quais tentei maquiar dada minha Paixão pela escrita, pela leitura, pelo poético, todavia, sinto que o que tanto protelei nos últimos tempos, ao ponto de me trazer bastante mal estar, já não pode mais ser ocultado sob o véu de tamanho e inexorável gozo...

Entre mim e as palavras já não há mais o que se fazer. Travamos terríveis batalhas interiores: o que quero delas, não se deixam sorver por mim. Estão arredias, geladas. Falta-me aquele quê o qual já tive um dia – e em certos momentos em especial... Agora, para tudo o que sinto vem-me a tortura das cruéis palavrinhas a me coibirem de coordená-las. Estão extremamente insubordinadas, frias, deixando-me em difícil situação... Isso não é justo! Nossa relação deveria ser menos egoísta! Na verdade, desprovida de egoísmo, posto que nos gostávamos, nos respeitávamos ao ponto de, numa conjunção linguístico-homo afetiva, sermos contemplativas umas com as outras, e, daí, surgirem tantos belos momentos juntas. Agora, privam-se-me o gozo de uni-las em versos, fogem de mim, compactuam com meu demônio interior e me queimam entranhas adentro, deixam-me em companhia de inquietude constante e solitude que dói. Ademais, na ânsia de torná-las minhas de novo, machucam-me, e a outrem, fazendo de mim uma algoz de mim mesma.

Não! Há algo transcendental que nos separa. E não estou encontrando resolução para esse problema. Creio que o que sempre nos tornou tão íntimas, no agora de minhas fracas percepções, afinal, mostra-se quase impossível de se "consertar". É pena! Acho que meu amor por elas será eterno (pelo menos, “enquanto dure”), só que o barco tem um rumo a seguir, e independente de maremotos e tempestades, eu, como capitã, devo levá-lo adiante, até o cais. Preciso repensar, nessa viagem, se nossa relação vale a pena, se o que nos separa, agora, vale as tantas vírgulas e interrogações que nos desentenderam os sentidos. Mas também não gosto de pontos finais! Quero-a em reticências, no mínimo! Mas vejo que no ponto em que chegamos, o divórcio seja o ideal nesse momento de reavaliações por que passo (amos).

Buscarei por um bom juiz, pedindo-lhe que me conceda a liberdade desse relacionamento doloroso, na tentativa de que um dia o prazer me venha ao encontro, de braços abertos, com um buquê de palavras novas, capazes de me perceber renovada, lícita, companheira e amante – incondicional.

Luzia Avellar
Enviado por Luzia Avellar em 08/02/2018
Reeditado em 08/02/2018
Código do texto: T6248421
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