Partidas
Dança gentil que roda a saia e meia volta
nem bem o barco partiu
a boca desenha o arco do choro enrustido
e o riso disfarçado, da mão se solta
não querendo ir.
Por que agora se nunca foi hora de partir?
São partidas que deixam rastros entristecidos
de pai, mãe, mulher e marido
a roubarem da alma a calma e o sorriso
e só tem uma que deixa alegria
é a ida do que não foi bem-vindo.
Quanto horror na partida de um grande amor
engenho de um tempo feliz
que vai-se embora para sempre
salvo se arrepende e volta
e quando o faz
é mais tardio que a cicatriz.
E de todas as partidas
a forçada pela morte
seja talvez a mais doída
inda que dor de curta vida
por não ter nó que se dê
nem jeito de voltar atrás.