Memórias da Roça

Muito tempo se passou
Do tempo em que eu era criança
Meio século de uma vida
Tenho o sítio na lembrança

Neste mundo virtual
É difícil falar do passado
Mas quando alguém me escuta
Revivo os momentos guardados

Está vivo na lembrança
O belo sítio onde nasci
De tudo que se plantava
Muitas coisas aprendi

Das roças de milho e do pomar
Das flores das laranjeiras
Um perfume inigualável
Que invadia a ribanceira

Me recordo da casa branca
De portas grandes e das janelas
Três cachorros no terreiro
As fechaduras eram tramelas

Eu ainda era criança
Mas na roça ajudava
De manhã ia pra escola
E a tarde trabalhava

Um grande plantio de tomate
Não vencia amarração
Tentava acompanhar meu pai
Com ajuda de meus irmãos

No sítio nem sempre é alegria
As vezes ganhamos, outras não
Quando a oferta é muito farta
Logo o preço vai ao chão

Mas a teimosia do homem da roça
Que só vive da plantação
Insiste e arrisca novamente
Derrama o suor ao chão

Prepara a terra, joga a semente
Pra que venha a chuva, fica rezando
Todo tempo olhando para as nuvens
Na boa colheita fica apostando

A chuva veio na hora certa
Mais tomate se plantou
Mas no início da colheita
Um temporal se formou

Uma tarde de sol quente
Num instante escureceu
Via meu pai olhando ao céu
Seu olhar entristeceu

Um raio riscou o céu
Tempestade anunciando
Trovões e nuvens precipitadas
Chuva de pedra roncando

Ao ver meu pai angustiado
Minha barriga doía
Por saber do investimento
De sua dívida eu sabia

As nuvens vinham em reboliços
Rajadas de ventos, parecia um tufão
Começou a cair granizos
Toda roça foi ao chão

Quando a chuva parou
Minha mãe saiu no terreiro
O que vamos fazer agora?
Tudo virou desespero

Todo trabalho perdido
O empréstimo com vencimento
O desânimo tomou conta
Começou o sofrimento

Para um pai de família
Foi muito dura a decisão
Os filhos ainda pequenos
Não podia faltar o pão

Foi preciso vender o sítio
Com muita dor no coração
O sentimento doía na alma
Não havia solução

Aqui criei minha família
Conheço cada palmo deste chão
Tirei toda praga daninha
No cabo do enxadão

Não levarei nada daqui
A venda é de porteira fechada
Pois qualquer coisa me lembraria
Meus caminhos, minha estrada

Adeus, adeus terra querida
Onde plantei arroz e feijão
De você tirei o sustento
Fica aqui minha gratidão...
João Luis de Oliveira
Enviado por João Luis de Oliveira em 11/02/2018
Reeditado em 10/08/2019
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