A HÓSPEDE
Achei uma palavra. Vazia como todas as outras. Nua de sentido, do lado de fora da minha porta. Abandonada, fria, imóvel. Toquei lhe o corpo débil. Ela mudou de cor. Vi que ofegava. Estava viva. Tomei a nos braços e ela me olhou nos olhos. Senti medo. Ela se enroscou no meu pescoço como se esperasse pelo resgate. E logo buscou minha boca num beijo certeiro. Quanta intimidade para uma estranha. Mas nunca, ela disse, nunca fui uma estranha. Você me jogou fora mas esqueceu do laço que nos unia pelo pulso. Por isso o sangue manchado nos teus pés descalços, e meu olhar torturado na busca de compaixão. Agora veja, sou eu quem hei de te carregar nos braços até o fim da noite, até que pronuncies meu nome, até que me bebas e mastigues e seja eu a gota que faltava para transbordar tua taça de insônia e desejo.