QUADRO DE INFÂNCIA

QUADRO DE INFÂNCIA

Visitando uma de minhas irmãs encontro-me, no canto da sala do apartamento, mais uma vez, com o quadro óleo sobre tela, me deixando levar para um tempo de criança, onde aquele mesmo quadro enfeitava a sala de jantar da casa dos meus pais.

Havia-se passado cinquenta anos e eu ali novamente criança, sentado à mesa defronte àquele quadro. Nos dias quentes, imaginava me banhando nas águas serenas do rio. De certa forma, o quadro que retratava uma paisagem de fazenda tornava menos sofrido, o calor daqueles dias mais quentes de verão.

As misturas e a suavidade das cores me fascinavam! Um dia por alguma travessura, permaneci sentado por uma hora em frente aquele quadro. Para passar o tempo, eu ia engolindo o choro, ao mesmo tempo, em que me perguntava. “Como seriam os passarinhos que moravam naquelas árvores? Aquela moça que cuidava dos animais, qual seria o nome dela? Ela deve morar naquela casa grande do lado esquerdo do rio, e naquela casinha pequena do outro lado do rio, quem morava lá? Bem que podia ter um pé de laranjas perto daquela moita na beira do rio. Quem sabe não dava para eu pegar algumas? Ficaria tão bonito eu pensava”.

No quadro chamava-me muita atenção, a erosão do lado direito do rio, as lindas e coloridas árvores que corriam o risco de serem lavadas pelas águas, no caso de uma chuva forte. Entretanto, o que mais me encafifava era como seria, e o que teria depois da curva do rio?

Um dia fiz essa pergunta para o meu pai. Papai tinha um sorriso sereno tão lindo! Olhou-me dizendo baixinho — “Um tubarão! Arregalei meus olhos e nunca mais cheguei perto do quadro, para ver como era o rosto da moça que eu achava tão linda!

Quadro óleo em tela (1959) do artista plástico Wernancy, meu primo, que foi por ele ofertado, à minha mãe por ocasião de seu aniversário.

Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 17/02/2018
Reeditado em 17/02/2018
Código do texto: T6256413
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