Arredio

Sentia-se clichê, um jovem com uma cadeira de praia no quarto tocando trompete -medianamente- diga-se de passagem. Meio aos ruídos do boêmio bairro de Botafogo, da janela onde se ouvia risadas d’outro lado da calçada -ah! aqueles homens de grandes barrigas que bebem desde o amanhecer enquanto apostam no truco…

Pela janela o menino em sua parcial solidão observava a vida na cidade do Rio. Romantizava sua tristeza e se sentia frustrado ‘por ser nada e tudo que imaginou que fosse’.

De volta a cama parcialmente arrumada, os amontoados de A5 que lhe causavam malquerença. Obcecou-se por uma miúda, uma aí com quem juntou as ancas e desde então não descansa em desenhar sua silhueta pelos papéis que toca.

Amargamente acende o cigarro matutino; seu refúgio, sua esperança de fuga eufêmica. E por aquela meia hora, os interesses, planos, e ânimos voltam-se a vida artística; fecha os olhos e toca alguma tentativa de Chet Baker.

Sem saber, a vizinha de um andar acima, anseia para que ele continue a tocar