A manhã do fim dos dias

Na manhã do dia da vingança choveu um sangue enegrecido.

Chegaram trezentos cavaleiros magros (também sangrando).

Sem discursos ou caminhar altivo,

apenas o abatimento entorpecido que precede o cadafalso.

Um vento norte profanou as sete princesas virgens.

No cais, vários galeões drapejavam velas de pele podre,

ratazanas tripulavam a ponte de comando,

Seus capitães jamais voltaram (ou partiram).

Os combates seguiram além do porto

E a maré aspergiu corpos pela praia.

Há muito as crianças se foram,

Mas o cerimonial tocou risos e brincadeiras,

Os sacerdotes haviam encontrado velhas gravações sob as ruínas da mesquita.

Os jovens que restaram executaram as danças ensaiadas

E riram o riso empodrecido dos quase mortos.

Engalanado, o Grande Líder compareceu à cerimônia

montando o último corcel branco da manada.

Falou-se que comia entranhas das viúvas.

Injúrias. Jamais tocara os humildes...

De pé, nus e envaidecidos, os reis decaídos aguardavam.

Todos se perguntaram porque sorriam, recitavam Maiakovski e cantavam

Os carrascos juraram que eles ainda possuíam lágrimas e que os viu chorar.

O que pensavam ninguém jamais saberá ao certo...

Nem os cronistas sabem o que foi feito dos corpos

Dos últimos poetas sobre a Terra...

Nairson Luiz Santos
Enviado por Nairson Luiz Santos em 08/03/2018
Reeditado em 25/04/2024
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