café frio

Mais um pouco de café na xícara.

Um lápis rabiscando um papel dando forma ao que parece uma mulher.

Vai completando uma ou outra poesia.

Veste uma blusa. Deita na cama. Fecha os os olhos.

Se perde em seu labirinto.

Inspira. Levanta. Esquece.

Volta. Tenta lembrar.

Ver a xícara pela metade de café frio.

Zanga!

Mas toma o restante e nem cogita em joga-lo fora.

Volta a sua mão para o lápis. Lembra de alguém.

Começa outra poesia. Levanta. Vai ao banheiro.

Retorna ao mesmo lugar.

Termina um texto. Publica uma poesia.

Responde alguém. Deixa de lado o celular.

Volta para o lápis. Escreve.

Esquece o que fez antes disso.

Volta. Lembra do café.

Ver a xícara vazia.

Se espreme pra lembrar. Não consegue.

O café foi tomado.

Mas não se lembra.

Zanga!

Se irrita com esses lapsos de memória.

Pensa em tudo que acontece como nesse evento.

Em quantas vezes se coloca café na xicara.

Espera ele esfriar pra não se machucar.

No meio do tempo se perde em outras atividades, pessoas ou em qualquer coisa.

E esquece do café.

Lembra quando ele já está frio. Intragável .

Toma mesmo que com um gosto ruim.

Se força.

E de novo se perde em qualquer urgência. Esquece.

Por fim não lembra do passo até o café.

Do toque na garrafa. E da xícara percorrendo um caminho até a boca.

Não recorda o sabor, nem o prazer.