O tempo no espírito

Faz frio. É noite. Está escuro. Não temo, tremo. Faz frio.

Meu corpo treme, tenho medo. É drama? - Sim senhor! Do frio que é medo faço drama.

No escuro vejo o vento, que só é vento porque eu vejo. Donde passa balança tudo, desde folhas ao peito, sentem medo.

Toda falta do quente balança meu juízo. O vento que eu via, agora é minha própria mente. O frio, o vento, são partes do meu pensar. E eu só digo pensar para não dizer meu juízo, que é só vento. Meu corpo treme.

Sinto que agora, depois de algumas palavras, já não sei se sinto frio. Aqueceu-me. Invento-as. Sinto-me salvo. Posso me alegrar, fugir do frio, mas, em suma, na atividade do calor das palavras que agora crio, sinto falta do frio.

Estão todas em mim (as palavras). E quando uma levanta, a outra se estica em meu juízo pregando a falta. Todo meu corpo se confunde. Sinto frio e o quero. Sinto medo e o quero. Quero sentir medo, então deixo-o que me toque.

E só para provocar harmonia, pago o preço, pois, a agonia se movimenta intensamente no peito. Urge subidas e descidas que não sei quando para. A respiração se altera. Os batimentos do que chamam coração oscila, tudo é misturado e ao mesmo tempo apesar do frio, calor e vento, sou o mesmo, mas, com meu juízo afetado pelo experimentar de coisas aladas.

Devo voltar para o frio, todavia, não tenho mais motivos para as palavras.

Pingado
Enviado por Pingado em 11/03/2018
Reeditado em 11/03/2018
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