AMOR PINTADO À ÓLEO

O amor é feito de pictóricas interferências do destino no ateliê das nossas escolhas, através do qual você, envernizado pela vaidade de viver, resolve em dado momento, dar o seu toque e desenhar, na alma, de alguma forma, o rosto de alguém... lá do passado.

Pegando na memória antiquária dos meus pensamentos levemente rabiscados, tentei cromatizar cada linha, cada traço de esquecidos anos dourados. Avivei algumas desventuras pra pintar, na essência, o contexto vibrante da sua história, com as cores do arco-íris, embora o ensombrecido da noite escura, tivesse tingido seus cabelos com tons de branco e prata.

Ruborizei na pincelada do amarelado tempo que havia decorrido, sem que eu percebesse que os seus matizes, traçaria naturalmente novas rugas de envelhecimento, mas com tons tão cheio de luz e sombra.

A vida inteira te rascunhei...

Mas a vida passa em suas cores primárias, apagando um vernissage entre você e eu! Não vou descolorar seu rosto, nem sentir seus lábios de carmim, porque nem me lembro de tudo nessa apagada fresta que foi ficando, dessa cor embaçada por efeito das minhas inexperiências. Mas te confesso que a realidade, é dessas telas brancas que após pintadas, não aceitam retoques purpúreos das nossas rebeldias de mudanças. Mas, se a tela ficar obsoleta, não culpe a tinta das lágrimas diluídas em água do teu olhar acastanhado e melancólico, borrado da maquiagem parda das angústias, que escondeu teu ego.

Já culpei o pincel, que minhas mãos conduziram até você. Mas foi ao acaso. Foi pra tentar colorir teu vulto místico, pois que não há mais tempo pra camuflar nossos mútuos e impressionantes retoques. Os pigmentos de saudade, de tão intensos, de longe vêem-se, à medida que a tinta vai secando, alusões às pinturas gregas da pinacoteca de um olhar apaixonado pelo próprio modelo. Seria arte medieval amar assim? Talvez!...

Quiçá falhei na técnica, em que o verde da esperança teria me impedido de desfazer o teu semblante, cujas demãos de confiança fosse preciso ter, pra evitar essa natureza morta de mim mesma, ou, evitar o teu olhar de paisagem sobre um cavalete ilusório das minhas antigas aquarelas, sobrepostas de nossas superficiais misturas de inspiração e desejo.