Nada e tudo

Os passos apressados caminhavam em direção certa. Tinha destino aquela pressa. Havia passado muito tempo em uma terra distante onde não lhe conheciam. E ainda que quisesse não poderia ser bem-vindo. As histórias eram outras, alheias a sua fora do contexto.

Fora para lá por vontade própria sem ser convidado. Talvez se tivesse encantado com a juventude das auroras. Talvez se julgasse senhor do juízo. Pensasse ser maduro o bastante para não se perder. Se assoberbasse em demasia pelos desejos que lhe dominavam o pensamento. Se fizesse surdo aos conselhos.

Agora voltava correndo para casa. Subia as ladeiras do bairro, as escadarias do prédio e batia à porta do próprio lar. Lembrava da mãe de quando menino, que vinha correndo lhe abraçar ao chegar da escola.

A nostalgia iludiu-lhe olfato e o apartamento cheirava à sopa quentinha. Acendeu a luz, pegou do chão as correspondências, algumas havia mais de dois anos. Voltava para casa com o coração vazio, mas com tudo o que precisava para seguir adiante. Estava tudo lá. Estivera o tempo todo.

Ligou o som e não foi o Réquiem que pôs pra tocar e sim, a nona de Beethoven.