Foi-se um ano
Chegado o dia de símbolo áureo, salivo um doce amargar na releitura... Sinto o etéreo toque de teus dedos sabidos e de tua língua que arrebatava-me em sofreguidão.
Conduzido por tua égide suprema, eterno escudo de Atena, caminhei por campos vastos, nutridos de amor. Reguei todas flores que avistei, e colhi a mais bonita para por em teus cabelos.
Que dizer de teus pelos? Tua mata abrasadora que prendia-me em teu cheiro, de teu toque cintilante que tremia-me o peito? Teu olhar, de tão profundo, decompunha os meus medos.
E destes olhos te fiz Musa, criei versos e harmonias, rezei sete ave-marias para aqui agora estar. Dedilhei a tua lira num eterno artesanato, ansiando ser teu Deus, já sendo tu minha Erato.
Nas horas medonhas da madrugada vejo um riso furtivo e breve, que conduz meu espírito vão aos salões de tua casa.
Uma semana foi aquela, um ano foi-se agora; a caminhada encontra termo no alvedrio deste tempo, infames frutos de outrora.
Tempo roto e malogrado, que fulmina as esperanças, que reduz sonhos a pó.
Que rói nossas entranhas e condena ao degredo.
Só tua pele e teu cheiro são capazes de livrar-me deste eterno calabouço de frio, desgosto e medo.
Minha Graça farta e plena, permiti minha sucumbência nestas roucas vozes do tempo. Em teu peito, patrono de tudo, encontrei eterno alento. Foram-se os lindos momentos, de riso, esperança ou dor. Pena que findou.
Destes bosques de abril, tateio no escuro a tua boca. Procuro pedras que falam, busco cordas de um violão alheio; num deja'vu amargurante, caminho nesta senda enluarada por teus olhos, ouvindo as mortas badaladas de um relógio que aprisiona.
Foi-se um ano de teu riso,
de teu olhar em profecia.
Foi-se o tempo de minha aurora,
um breve sonho de alegria.