PEDAÇOS
Vinhas bem de leve, meu amado, tão tranqüilo, tão meigo,
tão sereno e dos meus lábios roubavas um beijo
e carregavas um pedaço.
No outro dia, chegavas tão doce e afável e levavas inteiro
o meu abraço. Falavas: “o que levo, é apenas
um pequenino pedaço” para que eu não saísse
desse carinhoso laço. Varias noites se decorreram...
E contigo foi meu corpo quase inteiro.
Comigo, poucos fragmentos ficaram...
Pedaços que eram inúteis sem que estivesses por perto
E se chegasses, os meus pedaços volviam desejando, os teus,
agora insólitos instantes de afeto.
Quando o mês se acabou foi minha mente quem fragmentou
e o pensamento vazio ficou Sem razão, a agudeza sumiu
O computo se foi, a leitura acabou
Dois mais dois eram cinco não quatro, em minha conta decrépita.
A alma foi a imediata, mas sozinha já estava.
Todos os anseios foram colocados na gaiola magoados,
voltados a um amor que os ignorava.
Pedaços que não se juntam com cola-tudo, nem adesivos...
Para ser levado, mas nada me faltava...
Perdi a alma e recebi de troco pequeno óbolo, pobre esmola.
Então quis a minha poesia, o meu escrever
Queria todas as minhas letras, minha prosa, meu versar
Como por encanto, vi o nó se desfazer
O sortilégio acabou... O truque se fez contrário
De volta todos os pedaços que formam meu ser
Meu integral ser que não pode ser submerso.
Minhas palavras que não se podem prender.
Elas são só minhas ou de quem mais eu quiser e do Orbe inteiro!