A Similaridade dos Poetas

Todo poeta é estranho.

Não sente os pés no chão e de sentimentos diversos vive a tomar banho.

Todo poeta é confuso.

Por vezes pensa ser capaz de entender tudo,

mas acaba esbarrando na singularidade do seu mundo obtuso.

Os poetas vivem com a cabeça cheia de ideais,

e é isso que os diferenciam dos demais.

Por vezes ouvem que seus pensamentos são banais, surreais.

Eles não enxergam as coisas apenas com os olhos mortais,

em tudo o que veem conseguem perceber um algo mais.

Eles possuem diferenciais.

Vivem como humanos,

mas habitam outros planos

graças a consciência dos imortais.

Por isso, julgam-se desiguais.

Mas não se trata disso, apenas suas vistas percebem um pouco mais.

Eles parecem esquisitos, contraditórios...

Tudo por causa do palavrório

com o qual vivem a brincar

para os sentimentos expressar.

Eles sentem intensamente,

e para explicar

põem-se às letras misturar.

São muitos os sentimentos,

os pensamentos,

as opiniões,

é como se fosse uma usina nuclear.

É preciso muito equilíbrio para essa energia bem aproveitar.

Se você reparar, verá que são bonachões,

brincalhões, é que eles buscam se adaptar.

Mas são diferentes, é notório.

E isso não se restringe ao palavrório,

eles têm sede pelo entender, pelo educar das emoções.

São muitos os sentimentos

que lhes golpeiam a todo momento,

mas eles tentam se equilibrar.

Tentam buscar uma maneira de se auto interpretar,

tudo isso para conter a energia desta usina nuclear.

Essa energia vive a os queimar, não os deixa aquietar.

Eles procuram desvendar,

esmiúçam tudo com cuidado a fim de uma resposta encontrar.

Os poetas são inteligentes e para eles não é fácil conformar,

graças a visão que lhes permite captar

toda a extensão implícita em cada situação.

É difícil para eles deixar de perceber

a extensa gama de reflexões,

que as pequenas situações

têm a lhes oferecer.

É complicado! Eles querem ficar

mudos,

cegos,

desligados,

mas não conseguem, pois cada ser a sua volta

está sempre a lhes transmitir um recado.

O mesmo acontece com cada momento vivenciado.

Ser poeta é estar sempre ligado

a algo inesperado,

mesmo quando se deseja estar desconectado.

É não querer entender o recado,

mesmo quando ele grita ao seu lado,

para tentar viver mais sossegado.

Mas para os poetas não é possível fugir do revelado,

enquanto não se expressa o que se percebe se vive agoniado.

Ser poeta é ser diferente.

É ser sobrevivente

em um mundo adoentado.

É, também, viver desalentado.

Pois é pulsante a sensação de que não há como se viver conformado.

Ser poeta é estar sempre à procura do ilimitado.

E essa busca não é especificamente a de um resultado,

é algo mais extenso, mais profundo.

É a busca pelo fundo

sobre o qual se pinta o quadro.

Ser poeta é comovente.

É tentar explicar a própria dor de forma atraente.

É tentar entender o sentimento oculto existente

no peito de cada gente.

É possuir algo inocente,

para que se possa interpretar a doçura escondida em uma ação aparente.

Ser poeta é entristecer de uma hora para outra sem possível razão.

Mas é também alegrar-se repentinamente ao observar uma boa ação,

e sair depois disso cantarolando versos de uma bela canção.

Ser poeta é complicado!

É perceber o mundo como um complexo emaranhando

que precisa a todo instante ser solucionado.

É ter sempre perguntas em mente, não importando o explicado.

Ser poeta é ser questionador.

É procurar entre o caos aparente formas explícitas de amor.

É identificar na mocidade

traços de prosperidade.

É buscar entender o sentido da felicidade.

Ser poeta é sinônimo de instabilidade.

Ser poeta é olhar e sentir,

é tentar transmitir

algo que o sentimento revelou.

Não é olhar por olhar.

Não é olhar sem atribuir valor.

Ser poeta é enxergar com profundidade o que a primeira vista encontrou.

É amar o belo, o evidente.

Mas é também amar a semente

lançada em cada gesto de amor.

Ser poeta é assim,

uma diversidade sem fim.

É enxergar o natural, o racional...

Perceber as capacidades,

as possibilidades,

sem deixar de considerar outras realidades.

Ser poeta é viajar na imensidão

e tentar traduzir pela emoção

tudo o que se pôde notar.

Ser poeta é contagiar!

É levar os outros aos céus e fazê-los aterrissar,

para que encontrem depois sua própria pista para decolar.

Ser poeta é possuir sensibilidade;

É estar atento à diversidade;

É não se abater com a instabilidade;

É estar sempre à procura de alguma verdade

que possa oferecer tranquilidade.

Ser poeta é reconhecer com honestidade

que a perfeição não é uma realidade.

Ser poeta é tentar buscar por meios diversos a tal da equidade.

Por tudo isso, será fácil identificar os poetas...

Pois todos eles possuem certa similaridade.

Nijinska Nelly
Enviado por Nijinska Nelly em 21/04/2018
Código do texto: T6315385
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