Menina da bicicleta cor de rosa

Ela acorda cedo, mal se olha no espelho e corre pro banheiro para ajeitar seus cabelos. Seus longos cabelos cacheados, um eterno emaranhado de fios que se conectam e se completam, formando um eterno redemoinho que começa lá dentro da cabeça, escorre pelos fios e sai por ai sem rumo. Seu rosto tem aquele olhar perdido de quem não tem a mínima ideia de onde quer chegar, mas que mesmo assim é feliz em percorrer o caminho. Se prepara pra um novo dia, sem um pingo de maquiagem, meu deus, quanta coragem, sair por aí assim sem nem um batom vermelho para encarar o mundo? Mas ela sai. E então ela pedala sua bicicleta cor de rosa. Sai cantarolando bem baixinho uma canção que ouviu no rádio da vizinha. E eu a vejo, quase todos os dias, quando não a vejo parece que meu dia fica mais triste. Menina da bicicleta cor de rosa, nunca troquei sequer uma palavra com você, nem sei a cor do som da sua voz, mas sei dos seus medos e das suas coragens absurdas. Sei que você ainda tem fé na vida, mesmo que tudo pareça sempre desabar em cima de você. Sei também que você acredita no amor e na bondade dos homens. Sei que você sempre canta pra não ficar pensando tanta besteira, mas também sei que conversa sozinha e as vezes começa a falar tão alto que as pessoas acham que você está louca, mas você nem liga, você sabe que você é meio louca mesmo. Menina da bicicleta cor de rosa que vontade que eu tenho de parar meu carro e te envolver no meu abraço, te dizer pra não perder a fé, pra não deixar que te levem esse sorriso. Menina da bicicleta cor de rosa você tem esse brilho bonitos nos olhos, e apesar de nunca ter visto você sorrir eu sei que quando você sorri, você sorri com os olhos também e eles ficam bem miudinhos que dá vontade de sorrir também. Mas como eu sei tanto de você? Como eu sei dos seus medos, anseios, vontades? É simples, eu também já fui a menina da bicicleta, mas a minha era azul.