REFÉM DAS LEMBRANÇAS



Ao envelhecermos tornamo-nos reféns das lembranças e passamos a sonhar com a magia que engavetamos na memória ao longo de nossa caminhada pela vida afora, Viver atualmente com tantos privilégios, mas ao mesmo tempo com os sobressaltos de tamanha violência, leva até nós mesmos a duvidar que um dia vivenciasse com tanta paz e tranqüilidade, tantas limitações sem nenhuma preocupação. Assim Foi meu mundo criança:
O sol escondia no horizonte. Descompromissados como sempre fomos, e com aquela nossa alegria ingênua, meus colegas de infância e eu, deliciávamos em nossas brincadeiras. Éramos também parte do elenco ecológico no advento daquele belo espetáculo. O sol se punha e o horizonte tingia sua franja com o magnífico escarlate do colorido boreal, e o crepúsculo puxava o manto da noite. Vinha a lua toda risonha esparramando seus encantos sobre aquele cenário dominado pela soberania da natureza.
O cortinado de estrelas cobria o universo e o nosso mundo criança se tornava encantador. Ilustrado pelas lacraias no seu constante piscar de luzes, escoltadas por vaga-lumes, que em atalaia riscavam os espaços manchados pelas sombras dos arvoredos provocadas pela luz do luar. Imitando humanos; com seus estridentes gritos os urutaus de bicos escancarados ao longe no cerradão, quebravam o monótono silencio da noite após engolirem os mosquitos atraídos pelo mau odor do seu hálito... Foi, foi, foi, foi, foi!
Não menos selvagens nós moleques de pés descalços e cabelos desalinhados, éramos também parte da magia noturna, misturando-nos aos murmúrios e encantos projetados pela biodiversidade da natureza. Enquanto a noite não silenciava e o sereno não vinha para orvalhar os campos e os prados, a lua era soberana a passear sobre os telhados que ocultavam a humildade das lamparinas. Altaneiro e vigilante são Jorge exibia seu potencial encantador, enquanto nós meninos... Apenas sonhávamos o admirando como um valente guerreiro!Montado em seu corcel com o seu machado no ombro ele varava a noite em sua vigília altaneira inspirando romantismo aos sertanejos que arranhavam suas violas.
 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 11/06/2018
Reeditado em 27/08/2018
Código do texto: T6361136
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