No livro da vida



Não saberei nunca
dizer adeus/Afinal,
só os mortos sabem morrer
                         Mia Couto



     Até aqui me trouxe a vida. A embriaguez provocada por quilos, litros de sonhos foi, aparentemente, controlada, mas eles são partes de mim. As doses de realidade sempre vieram com força e, por vezes, com gosto amargo. Sobrevivi, sobrevivemos. E a vida vai seguindo seu curso...
     Os cheiros e sabores da vida me chegam com mais nitidez. Ganharam novas cores, novas tessituras, talvez não tão melodiosas, tão vivas e perfumadas como antes, mas ainda assim, belas. Não sou mais a mesma, é certo, mas meu sorriso  e meus desejos de vida plena continuam firmes, reais, encorajando minhas esperanças.
     No meu coração, nada mudou. Sou grata por tudo, sempre! Até a tristeza ensina, embora eu prefira aprender com a alegria. A fome de vida também permanece a mesma, agora com mais consciência dos meus limites, do quanto sou imperfeita, humana.
     No olhar, minhas janelas da alma, vez por outra, uma sombra assombra, mas com o real propósito de não esquecer o que sou nem o quanto cada passo que me trouxe até aqui foi importante, afasto qualquer vestígio de tristeza.
     Sou feita da matéria viva do sonho dessa vida plena, da luta que travo, diuturnamente, por justiça e dignidade.No meu livro,  tenha certeza, não haverá um capítulo de lamentações ! Encho-me de fé e de coragem, visto-me com a poesia da vida e, a cada manhã, me digo: " Estou pronta"!