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Eu te falei sobre minhas histórias vergonhosas que nunca consegui expor pra ninguém. Aquelas histórias que nem meus diários souberam de mim.

Eu te falei sobre a vez que minha mãe me flagrou dançando no quarto quando eu tinha oito anos e eu fingi que estava passando mal pra ofuscar minha vergonha.

Eu te falei sobre todos os meus traumas de infância; da caixa de pedras, do sete de setembro, da igreja sozinha.

Eu te falei dos meus medos e anseios e de tudo que me assusta; do futuro, do passado e do presente.

Eu te falei das minhas inseguranças adultas e infantis, que me fazem recuar pelo menos uma vez por mês.

Eu te falei das saudades que me apertam, dos sorrisos que quero perto e dos que prefiro amar distante.

Eu te falei dos meus problemas de saúde, das vezes que eu não soube por qual caminho eu devia seguir.

Eu te falei do meu amor por astronomia e astrologia e te mostrei todas as constelações que consegui encontrar no céu do teu quintal.

Eu te falei das minhas flores preferidas, que também se tornaram as tuas preferidas, e dos meus motivos para amá-las.

Eu te falei dos esportes que pratiquei na adolescência, do meu joelho desmantelado no futebol de rua e de cada peraltagem de consegui aprontar.

Eu te falei dos meus sonhos incansáveis, dos planos intermináveis e da minha vontade de voar o mundo.

Eu te falei da minha vontade de viajar pra um lugar exótico e adotar a identidade de um alter ego que criei pra tal ocasião.

Eu te falei sobre eu aprender falar aos 14 anos. Me refiro a quando aprendi a falar de verdade; falar do que sinto, do que acho, do que quero.

Eu te falei da minha compulsão por vídeos no youtube de shows de talentos e te enviei alguns dos meus preferidos.

Eu te falei dos meus problemas familiares, das minhas irmãs, primas e tias e te contei do apelido que ganhei de um primo e que até hoje a minha família me chama por ele.

Eu te falei do meu medo de falhar, do meu orgulho de pedir e da minha necessidade de ser aceita em qualquer lugar - que venho tentando superar.

Eu te falei das minhas opiniões políticas e dos meus posicionamentos frente as polêmicas que foram manchetes nos jornais.

Eu te falei da minha relação com deus, do quanto isso me faz ser eu e do quando é importante que eu o sinta em cada rosto que eu olhar.

Eu te mostrei meus vídeos dançando, no auge da minha adolescência e fazendo os passos mais ridículos já vistos nesse país.

Eu te falei de tudo, contei as minhas piores piadas, narrei as minhas melhores noitadas e também as maiores vergonhas que já passei.

Eu experimentei em você o que é confiança.

Com você não senti medo da dança que a vida nos colocou à bailar.

Aline Nobre
Enviado por Aline Nobre em 25/06/2018
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