Sentir-se
A água escorre como cascata por todo o meu corpo, massageando-o, fazendo amor com ele. Minhas mãos esfregam cada pedacinho dele. Meu rosto com buracos de espinhas retém a água como poças de lama que se formam após uma chuva forte.
Meus braços magros como arbustos secos executam movimentos que mais parecem coreografias mal ensaiadas. Observo meus pelos enrolados cobrindo minhas pernas como uma selva virgem e inexplorada.
Meu corpo é como uma máquina equipada com mãos de dedos magros e unhas roídas, ombros defeituosos e pés chatos. Eu lavo e ensaboo este corpo todos os dias, passo desodorante e aparo os pelos extras.
Visto-lhe uma roupa comum, enfeito-o com pulseiras e cordões.
Saio com ele a passear pela cidade, pago-lhe um sorvete no shopping, faço-lhe companhia em um cinema. Este é o meu corpo. Este sou eu.