Imaterialidade - Texto Dramático

Imaterialidade

(Uma figura encontra-se aninhada sobre os joelhos ao fundo de cena. Vestida de branco e óculos redondos escuros. Acorda e levanta-se lentamente ficando sentada sobre os joelhos. À sua frente um livro enorme. Abre-o. Apenas uma luz quente picada sobre ela.)

Psyche - Vivêncio a manhã... em meu despertar a respiração da vida... no caminho a concretização dos sonhos... Bom dia alegria... grito dentro de mim...

Um dia como hoje dá-nos o poder da intuição... da clarividência... o poder da nossa visão interior. Dá-nos a paz e harmonia para que possamos manter contacto directamente com a nossa missão pessoal... Se pudermos canalizar a energia intemporal de hoje... sentirás que cada momento é único e irrepetível... Mágico...

(À sua frente figuras no chão começam a mover-se numa dança de contorção. Figura ao fundo senta-se. Continua a ler o livro. Os corpos que mantêm-se em movimento.)

Psiche - Não é a minha voz que o diz. São as vozes do vento da sabedoria... contam-nos os segredos do existir... do vivenciar... Lembra-te de que as respostas estão sempre dentro de ti. Não sejas louco em pensar que a verdade está em qualquer outro lugar que não dentro do teu próprio ser... Olha para os teus próprios ideais e verdades para examinares e compreenderes a experiência da tua própria vida. Olha a tua vida como uma viagem sagrada... Liberta a tua coragem!

(Olha para o público.)

Psyche - Tu és um viajante do tempo e do espaço.

(Black out. Silêncio. Um homem ao centro no fundo de cena. Outro homem entra à boca de cena dançando para trás. Da direita para a esquerda. O primeiro homem, o caminhante, começa a mover-se para a boca de cena sempre de costas enquanto diz texto. O outro sai. Passados alguns segundo volta a entrar num plano mais atrás. E enquanto um avança para a boca de cena o outro vai entrando e saindo do cena em direcção ao fundo de cena.)

Caminhante- Por vezes caminhamos para trás nas nossas buscas insanas mas, no replay da História, existem grandes momentos. Eternas recordações do passado que nos impulsionaram para a frente.

E aos poucos a Humanidade, assim como o vento, acariciando cada lugar por onde desliza, sussurra em cânticos, que transcendeu a surdez e se ampliou no Agora.

Viajante do tempo e do espaço esta não é uma viagem que não se faz num só dia… nem em mil anos… mas num único instante… tão único que só o encontramos uma vez ao longo de todas as nossas vidas… um tempo virá então em que de dois faremos mil e de mil faremos um milhão e deste milhão refaremos a Unidade através de todos os mundos.

(O Caminhante fica parado à boca de cena e o outro personagem sai. Psyché entra traz pela mão um homem-estátua representativo da Humanidade. Posiciona-o no centro do palco. Vai ter com o caminhante e leva-o saindo pelo lado contrário de onde entrou. Inicia uma música. A figura ao centro do palco começa a movimentar-se. Aos poucos começam a entrar por todas as entradas de cena personagens que se vão integrando nesta dança. Representam a massa humana. Lentamente começam a sair. Permanecem do lado esquerdo centro três personagens. Por ordem crescente. Uma pessoa de cadeira de rodas, uma pessoa com deficiência que ande e uma pessoa sem deficiência. Entra num plano mais próximo ao público uma personagem na direita baixa e vai em frente com um livro na mão declamando alto. As outras personagens vão alternadamente se posicionando lado a lado sempre viradas para o público. Quando atingem a ordem crescente imobilizam-se durante uns segundos. Passam sempre uns por detrás dos outros e saem pela direita centro.)

Psyché - Se nascemos para o Amor

enchamo-nos pois de actos carinhosos...

Cada momento... Cada lugar...

Sejamos o Amor...

Procura-o dentro de ti e oferece-o ao Mundo...

Ele retribuirá...

(Pára pouco antes de sair. Olha quem está na sua frente coloca a mão esquerda sobre o olho esquerdo e fá-la deslizar. Olha para a mão, mostra-a à pessoa à sua frente e diz:)

Olha! São lágrimas de alegria!

(Sorri para ela e saí. Black out. Ouve-se uma voz doce e tranquila.)

Voz Off - Com as cores do arco-íris

pintamos o grande quadro

que é a nossa vida...

(Inicia uma música alegre. As personagens entram e formam uma roda de dança que representa a celebração da Vida. Uma personagem alegre saí do grupo de dança, destaca-se e diz directamente ao público:)

Venham...

Celebrem a cada dia...

Desejem o Céu na Terra...

Juntem-se a nós...

Pintem o vosso quadro...

Escrevam o vosso livro...

Plantem a vossa árvore...

Celebrem cantando...

celebrem dançando...

E acreditem

A força está dentro de nós!

(Um dos bailarinos traz consigo um saco às costas. Dentro um cobertor. Antes de saírem todo o grupo se junta como que num abraço e o bailarino tira o cobertor e deita-se no chão tapando-se. Música calma e melodica. O grupo começa a dispersar e observando o ser adormecido saem do palco por todas as entradas da cena. Som sai. Entram 3 pessoas fardadas. As suas indumentárias são futuristas. Ao verem o Sonhador(f/m) começam a berrar-lhe e dois agarra-lo/a à força. O terceiro olha o público nos olhos e fala-lhes ameaçadoramente em tom de aviso.)

-Não tenham pena deste homem/ mulher! Será levado por ousar sonhar ter uma alma… O Sistema não o permite. O Sistema não pode ser contrariado. Não há lugar para sonhos… para almas. Elas corrompem o Sistema. Os nossos sensores de consciência conseguem sempre perceber, em qualquer ponto do planeta, quando uma alma desperta. Não há saída para os desertores do sistema. O Sistema não permite mundos idílicos. E a quem mais ouse contrariar o Sistema que este homem/mulher seja um aviso. Dispersem! Vamos lá! Dispersem!

(Saem arrastando o Sonhador consigo. Black out.)

Luena dos Reis 11/07/18

Luena dos Reis
Enviado por Luena dos Reis em 11/07/2018
Reeditado em 14/11/2020
Código do texto: T6386864
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