Síndrome milenar das separações conjugais!...

O que seria pior:

O amor ausente...

...ou o desamor sempre e sempre presente?

E quanto aos filhos assim inconsequentemente gerados, eles não têm sentimentos?!...

Quando triste, mui triste, é refletir no descabido e desumano abandono que tantas e tantas crianças continuam sofrendo por parte dos pais (?!) e mães (?!) inchados de ambições materiais e passionais, excessiva vaidade pessoal, absurdas intransigências e destrutivo amor-próprio...

Por que não mais amiúde se exercem os quase divinos papéis de pais geradores, provedores, protetores, educadores e orientadores dos seus filhos... assim, seguramente, encaminhando-os para uma vida digna, educada, cívica e produtiva, pois então assaz amorosa?

Desde quando se extraviaram aqueles tão propalados amores infindáveis, pois de natureza maternal e paternal?

Por quais razões tornou-se tão difícil a convivência pacífica e amorosa dos casais com filhos?...

Amiúde vemos crescer o número de separações, sejam judiciais ou assimmeioassim “jurídico-amigáveis” (dessas separações onde um dos cônjuges exige por que exige ficar com os filhos menores, com o fito único de tomar tudo o que conseguir do outro, e ficar livre das obrigações legais de manutenção dos inocentes...); mesmo com os desalmados cônjuges adrede sabedores que tais inocentes pessoinhas por eles geradas, dependem diretamente do seu esperado bom relacionamento familiar; e que para que tal relacionamento seja mantido naturalmente, urge que seja alicerçado na primordial e mútua "troca" de alguns sacrifícios; sacrifícios tais, compostos de um naco de aceitação das naturais diferenças temperamentais - não poucas renúncias -, mormente aos prazeres mundanos; além de imensuráveis porções de todas as formas de amor em prol da felicidade familiar.

Seria assim tão difícil para o casal, um e outro praticarem a renúncia, a aceitação e o amor filial, assim melhor “suportando” o difícil perfil psicológico e temperamental do outro, ambos adrede sabedores da crucialidade disso para a ultra necessária preservação da saúde física, mental e sentimental dos filhos menores, naturalmente indefesos?!...

Sabe essas pessoinhas inseguras, excessivamente medrosas, intempestivas e tristemente arredias, muitas delas por ainda na infância - ou mesmo na adolescência, inocentes... -, terem sido condenadas pelas intempestivamente agressivas e invasivas atitudes dos seus pais em relação à família, a tentarem sobreviver a uma vida toda em desequilíbrio psicológico e comportamental, tentando subir e progredir na vida, inseguramente amparadas por uma "escada de uma perna só", ou seja, apenas na companhia do pai, da mãe, ou de apenas um dos avós, sejam esses (as) maternos ou paternos... mas na esmagadora maioria dos casos ficando com a mãe, mesmo que esta não apresente as condições ideais para arcar sozinha com tamanha responsabilidade social. Quando a pior das piores soluções será sempre aquela em que tais inocentes pessoinhas acabam egoística e friamente “largadas” nas abarrotadas instituições oficiais, sem ao menos serem órfãs de pai e mãe, mas “apenas” órfãs do amor familiar...

Pois bem... Eu mesmo e meu irmão mais novo, o Luiz Carlos, somos duas dessas pessoinhas abundantemente abençoadas por uma dessas “Pães”... A nossa saudosa mãe Chica (mãe e pai numa só pessoa...), maravilhosissimamente humana e amorosa, enquanto inacreditavelmente resistente diante das agruras daquela vida de então, materialmente apertadíssima e então desanimadora. Concluindo, ao que me lembre, e nós também nunca desfrutamos da segura presença de um PAI biológico que nos encorajasse e orientasse nos momentos de dor, medo, fome e carências mil... ou de difíceis tomadas de decisão quando adolescentes e jovens psicologicamente incompletos.

Na minha primeira infância, ali na Lapa, minha saudosa Mãe Chica, semanalmente ganhava do matadouro da cidade um balde de sangue de boi fresquinho, embora um tantinho assustador... Logo a seguir, era só ferver e acrescentar aquele seu amoroso e quase mágico tempero com muita salsinha, cebolinha, tomate e pimenta do reino, e estava garantida a parte principal da nossa preciosa e nutritiva alimentação por mais alguns dias... Já aos finais de semana, era quase uma festa só! Então ao nosso já tradicional “chouriço sem tripas”, vinham juntar-se os bons restos limpos de frango e demais quitutes da churrascaria do seo Juca, onde ela destrinchava e recheava frangos, frangos e mais frangos, desde a manhã até por volta da meia-noite... E nós ali debaixo da mesa, brincando no cesto de vime... Gente! Até hoje dou Graças ao SENHOR por ela, meu irmão de tantas "aperturas", o Luiz Muller, o Seo Hugo Neumann, nosso digno e firme padrasto que tanto nos amparou a partir de alguns anos após; e tantos demais corações misericordiosos - principalmente os mantenedores do antigo Quadro Social São Vicente de Paula; a seguir também os nossos primeiros patrões: o Seo Casemiro, da Padaria São Benedito, depois o Seo Osmário e dona Noeli, da Padaria Zeni da época, e o próprio efetivo do Batalhão de Artilharia local, onde ambos cumprimos nosso tempo de serviço militar, e onde ainda nesse período, fui um dedicado Cabo Calculador da Central de Tiros, e meu irmão um valente Atirador de Obuses 105 milímetros...

A todos aqueles, indistintamente, sou-lhes perpetuamente grato por terem feito parte atuante e decisiva na nossa vida, naquele difícil período desde o nascimento até a adolescência. Com todas aquelas dificuldades materiais, graças ao verdadeiro sacerdócio maternal de nossa mãezinha Chica, nossa amada heroína familiar, e nunca pusemos os pés num reformatório ou delegacia de polícia, sob quaisquer possíveis deslizes ou acusações.

...Já no âmbito geral das mazelas familiares provocadas pelas milenares separações conjugais, é deveras triste constatar que essa “perna isolada”, e assim sobrecarregada com tantos dificílimos e delicados encargos de família, infeliz ou felizmente (hic), na esmagadora maioria das vezes é legal ou "apenas" moralmente representada pela mãe "largada"... ou aqui e ali, em microscópica escala, pelo próprio pai e ou avós.

Embora, e muito provavelmente pela influência da própria natureza maternal acolhedora e cuidadora da mulher, quando ausentes quaisquer possíveis fatores legais contrários, a própria opção judicial de tutela e guarda dos filhos ocorra quase naturalmente em favor da mãe...

Essa admirável criatura, eterna e divinamente separada pelo próprio SENHOR, o Criador, como sua parceira terrena para a geração e proteção maternal da vida humana.

I am sorry...

Armeniz Müller.

...O arrazoador poético.