Antigas safras de bons cidadãos

A terra anda tão seca, quase não tem chovido,

a não ser tiros no que resta de telhado

e ainda bem que não tem alunos.

Uma escola vazia, também de professores,

desde que começou a sumir a merenda.

Um pátio abandonado.

Puro mato e erva daninha.

Também a erva danada,

enquanto se discute o seu poder medicinal.

Saudade do hino cantado no pátio,

agora com somente ratos

e um ou outro gato, no que resta de telhado,

porque são seus predadores naturais.

O antigo diretor, em casa, de convalescença,

com um marcapasso no peito,

onde antes havia um coração,

que pulsava pela educação.

Quem depredou? Onde está o sujeito?

Eu depredei ou nós depredamos?

Em que tempo está o verbo

ou aonde está a verba -variação em gênero?

Merda ou fezes -o feio ou o erudito?

O que é que soa mais bonito?

São séculos de abandono.

Passado, presente

e certamente, também futuro.

Não tem chovido quase nada.

Nós também somos um pouquinho de quase nada,

um bocadinho a mais que muito pouco

e o louco do professor ainda elege o vereador,

para ganhar mais e trabalhar menos

e o proibir de fazer greve,

porque a sua situação não é tão grave

e esse vereador,

pode até ser um daqueles alunos,

que abandonaram aquela antiga escola,

que tem um quase telhado,

um pátio abandonado, cheio de mato,

por onde circulam os ratos.

Onde os meninos cantavam o hino

e aguardavam o soar do sino,

anunciando a hora do recreio

e a tão aguardada merenda,

pois foi por isso que ele veio

e só por isso que muitos vieram.

Que conjugação é essa

e em que tempo ela está?

Enquanto isso na Assembleia,

estão os vereadores,

numa clara manifestação de sujeito composto,

praticando o oposto do que prometeram,

porque nunca se comprometeram

e jamais se comprometerão.

Nunca e jamais são advérbios de negação,

mas se eles abandonaram a escola,

no duplo sentido,

como disso saberão?

Há muito tempo

que não chove na nossa horta,

mas a quem de fato isso importa (?)

e no caminho do tráfico,

o de influências não é menos pior.

“O meu professor foi um homem bom

e muito me influenciou.”

O professor, sujeito nessa oração,

se tornou obsoleto e até as orações são outras.

São súplicas direcionadas a Deus,

que é a única esperança que restou.