Ainda Não

Ainda não...

Vivo ainda, triste, porém vivo. Andando em meio às contradições, algumas que eu mesmo causei, outras de um mundo que já há muito enlouqueceu e nem se deu conta disso. Pelo menos, consciente estou da minha loucura, de quanto sou pequeno, mesquinho, ridículo e dos males que faço mesmo quando não sei ou quero. Vivo, mais vivo do que nunca, em minhas mil e uma necessidades, as que eu mesmo criei e as que a vida em sua meticulosidade malvada criou. Até quando não sei, a morte gosta do elemento surpresa, seu sopro é às vezes uma leve e suave brisa, às vezes um furacão que leva tudo. Ainda não, a morte não veio...

Ainda não...

Como suicida em potencial, carrasco de mim, ainda teimo. Teimo em achar que o amor existe e que a paixão não traz perigo algum. Antes o amor não existisse e não marcasse meu rosto com tantas bofetadas, antes a paixão não envenenasse minh'alma e seu veneno não escorresse em minhas entranhas, fazendo de mim mais um zumbi desapercebido entre a multidão. Ainda não, o amor não partiu...

Ainda não...

Sou perito na arte de enganar, ilusionista barato que se exibe pelas praças de todas as cidades de onde passo em troca de umas poucas moedas. Sou o charlatão que exibe elixires inexistentes que acabam piorando o estado do paciente que não possuía doença alguma. Não parei com a minha teima. Existem sonhos? Se existem estão lá em cima, em nuvens que não podemos alcançar, mas que vemos o tempo todo e por isso só podemos chorar. Existe fantasia? Só aquela velha e desbotada fantasia de nossos diários carnavais. Ainda não parei de sonhar, mesmo que até o sonho seja meu pesadelo...

Ainda não...

Os mesmos versos malfeitos ainda brilham em meus cegos olhos, tentam sair da boca mais calada de todos os mortais existentes, continuam me incomodando por onde vá. São como o cão fiel atrás de seu dono, mesmo quando ele não tem o que lhe dar de comer. Ainda não, a imaginação não partiu procurando outro alguém, e cão ainda lambe suas mãos...

Ainda não...

Ainda não parei de tentar de dormir, mesmo que o sono não chegue... Ainda não...

(Extraído do livro "Novos Textos Poéticos" de autoria de Carlinhos de Almeida)

Carlinhos De Almeida
Enviado por Carlinhos De Almeida em 02/08/2018
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