Sorria!

Sorria.

Por dentro e por fora, ela toda era um riso incontido, transbordando de algum recôndito lugar dentro de si. Não sabia que existia a felicidade. Acreditava que pequenos pedaços de alegria momentânea eram o máximo que poderia existir; uma empolgação que nada durava, que nada mudava. Mas havia se enganado; ao que parecia, era possível ser plenamente feliz, como que inundada de uma euforia sem fim.

Entretanto, temia.

Receava despertar, não de um sonho, sabia que isso não era um sonho, mas receava que algo se quebrasse, que algo terrível acontecesse e interrompesse sua paz, que algo destruísse o que custara tanto para ter.

Estava feliz.

Como um quebra cabeça que por muito resistira a se formar, ela pacientemente aguardou... e aguardou... e chorou... e desistiu... e gritou... e tentou... um ciclo contínuo, uma brincadeira malvada de algum deus insano que estava sempre a postos para destruir qualquer fagulha de felicidade.

Pensava que cumpria o protocolo, nunca fizera nada além do bem, matou cada ruidoso pensamento ruim que já teve, não se permitindo nunca sentir raiva, inveja, desprezo... nada... seus dias sempre foram uma sucessão de auto controle, um policiamento constante do bem viver. Acreditava que assim seria feliz, que alguma força mística que regia o mundo lhe traria de volta coisas boas.

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Talytha Duarte
Enviado por Talytha Duarte em 03/08/2018
Código do texto: T6408139
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