Me acho

Eu me acho.

Durante toda a minha vida ouvi falar mal de mulheres que se achavam, fui ensinada a criticar quem se achava demais, mas quem determina o que é demais? Quem decide o ponto em que devo parar de me achar incrível e começar a me auto depreciar?

Eu me acho.

Eu sou linda. Não bonitinha, LINDA. Me acho linda e me lembro da primeira vez em que me olhei no espelho e me achei linda, na verdade eu ainda fico me olhando no espelho e pensando UAU. Ah, mas eu sou gorda. Eu sei, eu sou gorda... não precisa me falar, notei no espelho e nas roupas. Mas a minha beleza – e nem a de ninguém – está vinculado ao peso. E mais: eu me perdoo por ter engordado esses quilos todos, eu me respeito por ter sobrevivido aos últimos anos com tudo o que eu passei, eu me entendo por ter comido compulsivamente por esse tempo, então eu me perdoo... não foi fácil, mas eu consegui me perdoar.

E eu sou linda, independente do peso. Vi umas fotos da adolescência, eu era mais magra, o meu cabelo se comportava melhor, minha pele era mais lisa, meus seios mais firmes, minhas pernas com menos celulites. Eu não me achava tão linda como eu sou hoje.

Eu me acho.

Eu me acho inteligente. Eu disse isso pela primeira vez em voz alta há alguns meses em uma entrevista de emprego respondendo à incomoda pergunta de “pontos positivos e negativos”, e me senti segura para olhar nos olhos da minha entrevistadora e responder: “Eu sou muito inteligente”. E eu sou. Estudiosa, esperta, reflexiva. Eu gosto disso em mim., do meu cérebro, das minhas conexões dentro de mim mesma, da minha capacidade de me completar intelectualmente. Consegui o emprego.

Eu me acho.

Eu sou forte. Eu sou extremamente forte. Eu sinto isso quando eu levanto da minha cama todos os dias pela manhã, é uma vitória. Passar maquiagem? Mais uma vitória! Brincos? Vitória! Me exercitar de manhã? Bingo! Encontrar uns amigos? Motivo para orgulho. Vivo de pequenas vitórias particulares, mas afinal, não vivemos todos? Todos nos levantamos de nossas camas todas as manhãs sem sabermos o que esse mundo insano nos reserva, nos sujeitamos à sorte e nos lançamos porta afora, torcendo para que não sejamos engolidos. E quer saber? Eu saio de casa todos os dias duvidando que eu vá conseguir sobreviver a mais um dia, mas eu tenho sobrevivido a todos; e tenho me saído tão bem nisso que estou considerando iniciar um novo desafio: viver. Eu sou forte para isso.

Eu me acho.

Eu sou engraçada. Sarcástica, na verdade. Tenho sempre um comentário irônico que desponta em minha mente em todas as situações, sobre mim mesma, inclusive. Faço piada das minhas desgraças particulares, dizem que isso é um problema, “fuga”, não sei, mas arranco risos; alguns chegam até mesmo a pensar que eu sou alegre. Viu? Ironia.

Eu me acho.

Eu vou me achando... eu vou me encontrando... eu vou me descobrindo.

Eu me acho.

Espero nunca acabar de me achar.

Talytha Duarte
Enviado por Talytha Duarte em 06/08/2018
Código do texto: T6411105
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