A eternidade de cada dia

Eu sou extrema e infinita. E é assim que eu quero as coisas, com a intensidade e a extensão da eternidade.

Não aceito fins de ciclos. Não aceito a morte das pessoas. Não aceito o fim dos relacionamentos, verto lágrimas até quando sou eu quem digo adeus. Não sei deixar de querer sair com os meus amigos de escola. Não sei me desfazer de objetos antigos, de nenhum deles... guardo roupas que não servem mais, sapatos que saíram de moda, brincos sem par, livros já lidos e que não lerei mais, livros não lidos e que não lerei jamais.

Eu guardo tudo.

Guardo pequenas memórias que eu não preciso guardar, histórias que não permito que se apaguem, e algumas nas quais eu não deveria pensar. Guardo fotografias. Guardo cartas.

Constantemente busco a perenidade de tudo.

Preciso que tudo seja eterno. Não aceito fins de ciclos. Acredito que algo só é real se é eterno. Acredito que tudo deveria ser eterno. A Bárbara me disse que eu tenho de focar na eternidade de cada dia; eu achei isso lindo, a ideia de que cada dia é eterno, que cada dia contém uma célula de eternidade que eu preciso entender e desfrutar! Mas eu não sei viver isso, eu não sei ser assim, a minha intensidade é outra. Ela então me disse que banho forçado também limpa... Ela obviamente é uma pessoa melhor que eu, sabe superar melhor as coisas, conhece ciclos, aceita finais.

Eu não sou tão boa assim. Eu choro de saudades de pessoas que não se lembram do meu nome, eu fico remoendo erros passados que não alteram o presente. Eu releio velhas cartas e bilhetes. Eu releio poemas velhos que escrevi e não lembro para quem. Eu me releio buscando me encontrar. Eu não consigo finalizar meus ciclos, de alguma forma estranha eu não consigo me desapegar de mim para recomeçar.