Delicada realidade

“Viver não é coragem, saber que se vive é a coragem.”

(Clarice Lispector – A Paixão Segundo GH)

Saber-me viva me assusta mais do que estar viva; saber que estou tão viva quanto o mundo e que há em mim um caos pouco menor que o dele, um caos que não desejo – ou não me esforço para – reorganizar. Sou estranha ao mundo, uma intrusa. Como este cheiro de fumaça que não sei de onde vem, e que me incomoda. E não são minhas fraquezas que me limitam, mas meu medo interior; a incompreensão de mim mesma. A palavra é o que me permite. Como escreveu Clarice, é preciso forçar a palavra para que ela diga até o que não deveria ser dito, ainda que falte estética. “[...] Se eu não forçar a palavra a mudez me engolfará para sempre em ondas.” Somente por meio da palavra podemos compreender o sentido amplo (e incompleto) das coisas.

Escrito em 06/09/07.