SINTO-ME UM VÍRUS

Quando me fiz droga e você provou, pouco sabia que eu também dependeria de você. Uma ação parasitária. As vezes sinto-me um vírus, que fatidicamente encontrou seu hospedeiro e não consegue viver, de forma completa, fora daquele corpo. A cada dia dentro do teu organismo, minhas réplicas virais são feitas e você se vê sentindo minha presença em cada parte do corpo. E sim, eu estou em cada parte. Talvez as reações adversas de me ter dentro de si sejam drásticas e quase que fatais, gerando, ao longo do tempo, consequências que nem todo corpo é capaz de suportar. Vale lembrar que vírus, quando conhecidos, podem ser combatidos; a morte se faz completa e o hospedeiro se livra de uma nova infecção. Anticorpos são criados. Em casos raros, o vírus se mostra mutável e você talvez não consiga combate-lo, e quanto mais tempo sentindo, mais tempo esse ser se vê pertencente a você, preso a suas células, e no fundo, talvez, seja tarde demais e você tenha que viver com os efeitos a vida toda. A dor de se perder um corpo não é medida, afinal o vírus não possui sistema nervoso, e certo disso, ele vive ao máximo dentro do corpo que opera sua vida; sua morte, pra si, se torna insignificante, estática, congelada na atmosfera apenas a espera de um corpo pra parasitar, e certo que vivo dentro de você, definitivamente, sinto-me um vírus.