DIÁLOGO COM A CONSCIÊNCIA

João Vitor, após divagar a esmo em pensamentos sob o chuveiro, sem a resposta que alimenta o justo, fixa a imagem embaçada do espelho. Após alguns segundos de reflexão, permite que a toalha deslize sobre seu corpo, até encontrar-se com o chão molhado do banheiro e ali manter-se imobilizada. Concentra-se no desconhecido à sua frente. Inicia-se então nas suas entranhas, várias batalhas. As batalhas dos por quês?

— Oh! DEUS!... quem ofuscou o meu brilho?

Por quê? — Reforço a pergunta, por que me sinto acorrentado pela ilusão que potencializa a insensatez. Apunhalado com a lâmina estreita da discórdia. Aprisionado no labirinto de prazeres sem fim. Seduzido pela luxúria desmedida e aliciado com a petulância do arrogante?

Até recapitulo o filme mal dirigido, o qual, sem revestir-me de prudência, protagonizei.

Nele percebi a carapuça de orgulho mutilando a minha sanidade. Ela, que outrora, fora revestida pelo brilho que sustém o soldado de ousada peripécia.

Amordaçado pelo câncer da utopia, sinto-me o ser em busca da liberdade. Descubro que estou no caminho certo.

Após um pequeno tremor, vertem dos olhos as primeiras lágrimas, com espasmos de soluços contínuos.

— Seja firme. Não vire o rosto. Olhe bem para ti, João Vitor. Percebes que não mais consegues enxergar o moço otimista, sensato, possuidor de vontade férrea e de destemida coragem?

— Cadê, João Vitor, o jovem hilariante, bom filho, bom irmão, bom exemplo, que vivia em ti? — Onde se enterrou o menino sonhador e cheio de idéias maravilhosas, que com um simples sorriso, contagiava os corações dos menos afoitos, a lutarem por um ideal?

— Tenta João Vitor, com muita paciência, adentrar aos insólitos pensamentos que debilitam teu ser e busca com prudência, extrair algo positivo desse teu deslize existencial.

— Mas não, não permitas que a chama da veleidade queime a tua índole.

— Persista João Vitor e se dê uma nova chance. Nem tudo está perdido.

A face transfigurada, pela batalha da consciência, aos poucos vai se abrandando... ao ponto de suavizar-se por completo, ao sentir-se acarinhada pelas lágrimas, que deslizam soltas e livres dos desvarios intrínsecos. Retorna aos olhos o brilho da confiança. Na face, a virtude do bom caráter. Nos gestos, o equilíbrio do vencedor. No sorriso franco, a sorte de quem renasceu com intenso brilho.

Por isso, aproveita a chance desse momento. Sê tolerante consigo mesmo, lapidando as virtudes que abrilhantam um ser de simplicidade, humildade e regozijo do mestre, que se apresenta no discípulo, após alistar-se e sagrar-se vencedor, na batalha do conhecimento, possibilitando novos valores trilharem o jubilo da redenção, ao cultivarem ensinamentos espirituais, permitindo que o germe da esperança e alimento da alma, se transformem em sementes na prosperidade humana, dando-se conta de que, é possível sim, vivermos revestidos pelo amor e paz espiritual, que tanto anela a nossa alma.

Repito então! — Não desista jamais.

— As estrelas hão de se ajustarem à tua causa.

— O sol, estará sempre disponibilizando o seu calor.

— A mãe lua fará perpétua vigília no teu descanso.

— O Universo compartilhará eternamente a sua grandeza.

— Cabe a ti, somente a ti, perseverar para resguardar o êxtase desse fascínio.