Pérola negra

Já no primeiro verso nocauteias o poeta: rebuscas o que há nas linhas e nas entrelinhas usando armas letais e plurais: és mulher!
És mais: fêmea de cores fortes misturadas aos verdes aromas, que sabe o valor do cio e se entrega sem pejo navegando nas águas mais fundas do calafrio... Isto te habilita a ir mais fundo.

Já na primeira estrofe me vê e nesse verso me aponta: sim, o poeta foi fundo demais nas marias, marias e colocou-as num pedestal de onde elas acreditavam ser deusas e que de lá jamais sairiam...

Agora dissecas meu mar. Ofereces absinto, dás fala ao poeta. Não se engane, ele navegou em águas profundas, noturnas de mares revoltos... Tentou ir ao fundo fundo do mar buscar almas, mas o destino lhe deu a glória de salvar. Medalhas no peito são poemas frios, mas as guarda no coração para aquecê-las. A única aquecida pelos sonhos da juventude que jamais ostentou no peito foram as do próprio sonho. 

Guarda este poema já aquecido e no melhor dos teus cheiros (e não são os verdes aromas...) Se o ocaso do vate não estivesse logo ali, aquém do horizonte, e a vida equacionada, tomaria a bússola e a rosa dos ventos e retornaria ao fundo fundo do mar, não para” pegar as estrelas com a mão”, mas resgatar a pérola negra que há nos lindos poemas.