Entre a intuição e a espiritualidade

- Quando o nosso interior é o protagonista -

Não, eu não quero jamais perder o fascínio pela vida. Ai de mim que escrevo o amor, sem as ferramentas do encanto; da fantasia; dos sonhos...

Resisto, não permito. Luto para que a aridez da realidade não abra a porta da desesperança.

Meu espírito é fortalecido e intrépido o bastante para não se render, facilmente.

Os ensinamentos do tempo, as lições da juventude e os inconclusos assuntos pretéritos, ofertaram-me uma intuição decifradora das obscuridades cotidianas.

Há, nas relações contemporâneas, um tipo de reciprocidade análoga ao "amém" das igrejas, ao "bom dia" mecanicamente retribuído.

O espírito antigo já não cabe mais nesse invólucro, reclamante de dores.

Sabemos o que é translúcido mas nem sempre identificamos os conflitos, os tumultos vários - positivos ou não.

O que se sabe, ou melhor, o que se sente, é que, mesmo guardado a sete chaves, os sentimentos de grande magnitude, adquirem proporções surpreendentes, rompendo celas e ultrapassando as muralhas da fortaleza íntima.

De fato, os recônditos da alma não suportam o represado, o acumulado...

Com o tempo, a solidão interior - transborda, inunda, enche, chateia...

Às vezes, são bem incovenientes as manifestações da paixão, aos olhos e/ou ouvidos pouco sensíveis. Compreensível, afinal...

Quem escreve o amor, não busca retribuição. O poeta apenas desabafa as guerras do eu, requerendo, a todo custo, a inspiração como substituta da solitude que o aflinge.

A abstração em que vive, o permite conversar com as estrelas, ouvir a sinfonia da brisa, contemplar a fanfarra dos pardais no seu telhado... - Em plena manhã de segunda feira.

Mas a poesia é contraditória. Prega, enfatiza, dá musicalidade e ritmo ao amor mas não consegue trazer das entrelinhas de quem as escreve, respostas que, desesperadamente, são buscadas além do "eu também".

E, assim, o poético coração cicatriza-se, acostuma-se, contenta-se, restringe-se... Sobrevive com meias palavras, colocadas, estudadas...

Porém o poeta tem, por sorte, a inspiração, como um acolhedor destino de cada palavra. Esta não o abandona. Talvez a compaixão, a piedade ou a simpatia, contribuem para a abstração, também. Ou seria por um divino ato de solidariedade à poesia, ao amor impossível, à lágrima discreta?...

A resignação é em carne e osso, apenas. Minh'alma permanece em histórica e interminável rebelião.

Luiz Rodas
Enviado por Luiz Rodas em 24/09/2018
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