O Canto Escuro da Sala

Sem perceber as horas permaneci na entrada diante da porta, numa poltrona, deitada, apática e invisível. O tempo foi passando... Agora fica o dito por não dito.

A brasa do cigarro é a única luz que ilumina esse lugar gelado. Um nada posto, vem o fim das palavras sem nexo, sem mentiras, sem testemunhas ou digitais soltas pelas paredes da ilusão que criava.

Chegastes as tantas, como um poema improvisado ou versos alados ganhando as profundezas de um ser liberto; e logo saístes. Vi nas cinzas cessar a última gota que caiu deixando os cílios molhados, fechados como porta de baú com tralhas esquecidas.

Nada tenho além do vento sacudindo as árvores lá fora, desfaço-me e reivento-me em tudo agora, mesmo sabendo que no canto da sala o sonho ainda viverá por longo tempo...Tirei a poltrona, o sofá; tirei as manhãs da janela que se fecha pro jardim e o som do bater de asas da águia lá adiante no cume da verde colina; deixei a casa, deixei o quarto desarrumado, e também deixei o canto escuro da sala.

O meu vulto caminha só e descalço descendo as escadas, rompe as barreiras da inércia e some no negrume da noite ganhando as avenidas iluminadas.

Corina Sátiro
Enviado por Corina Sátiro em 03/10/2018
Reeditado em 03/10/2018
Código do texto: T6466971
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