O direito da fala
Escrever é democrático, o papel aceita tudo e o direito ninguém te tira. Ou tira? Não é o tipo de coisa que mereça a aceitação da dúvida.
O direito da fala, enquanto não for me tirado, vai causar danos ao lado do opressor.
O meu direito de fala, enquanto posso usa-lo, vai exaltar LGBT, vai gritar por eles, quando suas vozes estiverem tapadas pela ignorância, pelo desamor.
Vou usar meu direito de dizer para relembrar a todos, todos os dias, da atrocidade de uma história aterrorizante que se repete, se aproxima.
Vou negar cada um que apareça com as mãos sujas do sangue, sangue da Marielle (afinal, quem matou Marielle?), sangue de Mestre Moa, mãos sujas de sangue inocente; com a boca suja de mentiras.
Até não ser silenciada, minha voz será para gritar pelos quilombolas, pelo povo indígena, massacrados enquanto pedem pelo direito de um pedaço da terra, cuja, originalmente, são donos.
Enquanto minha voz fala, ela falará do preto que sai as 7, e volta as 19; e que, ao se prevenir de tomar uma chuva, é almejado pelo guarda-chuva de um policial com convicção.
Enquanto a minha boca não se cala, ela vai gritar pela memória das mulheres que já não podem gritar mais, e rogar pelas que ainda o podem, que mantenham a energia, gritando pela vida, pelo direito do "não" e direito do corpo umas das outras.
Vou usar o direito da fala, que tanto custou às minhas, em detrimento do preconceito, da intolerância; vou gritar contra o fascismo que se instala em nome de xenofobia, ódio; minha boca vai denegrir o nome daquele que incita o machismo, o racismo, a violência.
Eu vou dizer, pois até que a minha voz não seja interrompida, até que minha letra não se apague, até que não tenho uma receita de bolo bem aqui, vou falar contra aquele homem, e a favor dos que também correm o risco de não falar mais.
#EleNao #EleJamais