(DES)ESPERANÇA: quando a última é a primeira a morrer

Sexta-feira, fui visitar a esperança. Confesso que tentei lutar com todas as minhas forças pra que esse dia não chegasse. Por exemplo, prendi o domingo no cativeiro. Porém, artista que é, saiu de lá em poucas horas, com a canção mais fúnebre que já ouvi. Tão real. Tão cruel. Tão Raul em Canto para minha morte. Mas, acredite se quiser, na música escrita por domingo as doses de sobriedade eram ainda mais intensas.

Com isso, já não adiantaria raptar a segunda-feira e colocá-la numa torre distante. Envenenar a terça, pra quê? Com toda certeza, a princesa encantada da quarta-feira a resgataria com aquele beijo cinematográfico. E, de quebra, quinta-feira, aquela maldita, se esquivaria do canto da sereia e ainda criaria uma poção pra salvar a quarta, picada pela serpente. Assim, sexta-feira surgiria altiva, esnobando toda a vida.

Um dia antes, ligação. Urgência. A esperança seria transferida pra UTI. Três letras e um alfabeto de sensações devastadoras. Chegando lá, como da primeira vez, rolou aquele forte e longuíssimo abraço. (Tive a vaga impressão de ter ouvido Maninho ao fundo). Então, depois de um derradeiro suspiro, a esperança se foi... “Sinto quando lembro o que restou daquele abraço”.

Mentiram pra mim! Mentiram pra nós! E agora, José? Ela não seria a última? Esperança, por que me abandonou? Como foi sucumbir diante da milésima primeira pedra no meio do caminho?! Ora, Elis já tinha nos avisado: você poderia até se machucar, mas daí morrer eram outros quinhentos. Cadê a sua veia equilibrista pra sambar de salto 15 na corda bamba da vida?!

E, agora, me diz uma coisa... O que colocar em sua lápide? “Morreu, sem esperar a sua vez”? “Morreu primeiro porque quis”? “Morreu esperando um amanhã feliz noutro lugar”? “Morreu carregando o peso da vampírica imortalidade”? Que peça você me pregou, hein?! Mas, espero que a melhor inscrição seja: “Morreu, aquela que sempre velará por nós”.